Primavera Sound Porto 2024 (1º Dia): A revolução feminina celebrada em várias frentes

Com uma nova temporada de festivais de verão oficialmente aberta, o Primavera Sound Porto volta a destacar-se como um dos eventos musicais mais destacáveis e heterogéneos no panorama português, com muitos dos nomes fortes da edição-mãe em Barcelona, que decorreu na semana passada, a marcar novamente presença no país vizinho. Ao longo de três dias de programação e com 48 artistas nacionais e internacionais de peso a integrarem o seu cartaz, a CONTRABANDA volta ao Parque da Cidade do Porto pelo terceiro ano consecutivo para captar o espírito do Primavera Sound Porto. Por ordem cronológica, seguem-se os destaques do primeiro dia de concertos que espelham o passado, o presente e o futuro da música como hoje a conhecemos: diversa e incrivelmente libertadora.

O quadrado intemporal e revigorador de Ana Lua Caiano

Para quem ainda não estivesse rendido, 2024 tem sido o ano da consagração de Ana Lua Caiano. O lançamento de Vou Ficar Neste Quadrado, veio consolidar todo o potencial apresentado nos dois EPs que o antecederam (Cheguei Tarde a Ontem e Se Dançar É Só Depois). Somam-se ainda presenças de peso em múltiplos eventos internacionais ou os acumulados destaques na rádio norte-americana KEXP, que a colocam como um dos principais bastiões da sonoridade contemporânea portuguesa. Neste seu cruzamento incansável entre o tradicional e o contemporâneo, desconstroem-se “os cânones folclóricos da música portuguesa pela via do experimentalismo” e evocam-se “alianças inesperadas e meticulosas em tudo o que lhe desperte o fulgor criativo do imaginário”. E mesmo distante das “inquietações e receios do quotidiano” pandémico que deram azo a muitas das criações que se seguiram, a ânsia permeada em cada recanto deste seu primeiro longa-duração ultrapassa qualquer barreira temporal e estilística.

Fotografias da Autoria de Bruno Ferreira @ DIREITOS RESERVADOS

Subiu ao topo do Palco Super Bock, pouco depois da abertura do recinto, com um estaminé que dificilmente cabia na sua discreta secretária, de onde vai juntando as camadas basilares de cada um dos seus temas até atingir o resultado desejado. Durante De Cabeça Colada Ao Chão, incorporando passagens vocais com recurso a um sampler, optando pelo recurso ao adufe em O Bicho Anda Por Aí ou ao bombo durante Mão na Mão, faixa maior do seu repertório que nunca falha no encargo de gerar alento em quem a escuta. A pouco e pouco, tornou-se um facto assente que Ana Lua Caiano ia controlando tudo o que mexe com uma força indomável, envolvendo o público como uma peça tão ou mais fundamental da sua impressionante panóplia de instrumentos. Os sons, claro está, podem ter uma infinidade de origens, e, para Deixem o Morto Morrer, transformou um coletivo ‘bate-pés’ num motivo rítmico, ao qual se fizeram juntar a voz destemida de Ana Lua, as palmas e, mais do que nunca, uma animação que percorria cada recanto da colina. Cantou-se vitória na sua primeira vinda ao festival e, apesar de ter ficado a seu cargo arrancar três dias de celebração musical na zona mais recatada do Parque da Cidade, este é efetivamente um one-woman show que merecia outro tipo de protagonismo, num palco maior e, acima de tudo, num horário mais nobre.

Militarie Gun e como (tentar) fazer o hardcore apelar às massas

Para todos os efeitos, a banda que agora abre o palco principal do Primavera Sound Porto ainda não existia há pouco mais de quatro anos. Como resposta ao contexto pandémico que atirou os seus Regional Justice Center (a par de uma carreira de realização) para um futuro incerto, Ian Shelton transformou os Militarie Gun no seu próprio escape terapêutico. O que se seguiu, para além de uma necessária expansão de um projeto a solo para um quinteto, foi uma série prolífica de lançamentos que culminou num disco de estreia, Life Under The Gun, que pinta uma visão progressiva, frontal e vibrante dos tradicionalismos puristas do hardcore, misturados aqui com sensibilidades pop e refrões tão fixantes como efusivos. Num mundo pós-Turnstile, não restam quaisquer dúvidas que atos como os Militarie Gun conseguem ganhar uma certa universalidade por onde ecoam, mas as condições desta primeira passagem por território nacional eram, no mínimo, adversas.

Fotografias da Autoria de Bruno Ferreira @ DIREITOS RESERVADOS

Foi perante a surpresa e descontentamento generalizados de um Palco Porto com metade da frente de palco novamente destinada à fatídica zona VIP, tal como já tinha ocorrido na edição anterior, que os californianos entraram em cena. É tudo o que não se quer num concerto do seu estilo e, por mais que Shelton ordenasse a plateia para se aproximar das grades e saltarmos todos em uníssono, a festa ficou condenada por problemas alheios a quem realmente quis celebrar ao seu lado. “Gostava que vissem a minha perspetiva. Vejo pessoas tristes a levar com pessoas entusiasmadas e pessoas entusiasmadas a levar com pessoas tristes”, gozava Shelton. Nem a explosividade de Seizure of Assets, que tencionava marcar o ritmo da próxima hora, conseguiu que a generalidade da plateia despertasse de um sono incompreensível. My Friends Are Having A Hard Time, em contrapartida, desenrolava um dedicatória sentida às ansiedades irresolúveis de quem nos é querido, englobando, de certa forma, o caráter revitalizador que deu azo à formação do grupo. A mera presença de Shelton era suficiente para adicionar alguma afronta à bizarria do momento, irrompendo em gritos guturais de auto-afirmação com energia suficiente para implodir qualquer frustração pessoal numa sequência ininterrupta de desordens espontâneas. Já na segunda metade do alinhamento, as passagens imediatas de Never Fucked Up Once ou Very High, tão orelhudas como qualquer tema maior dos Blur, pareciam mais algum consenso entre os mais apáticos. Não admira, aliás, que tenha sobrado tempo para um retorno espiritual de Song 2 feito com alguma comédia à mistura, cerca de um ano após termos presenciado uma “exibição de sonho das lendas inquestionáveis do brit pop”. Deu-se finalmente o despertar de uma concentração humana que mostrava poucos sinais de vida até então e que nem sequer procurou fazer justiça às proclamações de Shelton e companhia – “é prova que ainda não somos mainstream, mas sim contracultura”. Com apostas semelhantes a obter melhores resultados mesmo ali ao lado (Amyl and the Sniffers no Palco Vodafone, duas horas depois), fica impossível de justificar a escolha de local que armadilhou os Militarie Gun numa experiência inevitavelmente constrangedora.

A desordem aprazível dos Water From Your Eyes

Na realidade hiperativa dos Water From Your Eyes, o conceito de racionalidade tem pouco ou nenhum espaço. A dissonância da contemporaneidade coloca, no outro lado da balança, uma pitada constante de humor, tão histriónico como recatado, que afina cada uma das suas criações arrojadas. É música que, ao ser tratada com uma dose de seriedade, também não se procura levar demasiado a sério. O ironicamente intitulado Structure serviu como uma prova séria desta dicotomia que governa o seu ethos, colocando-os na vanguarda do espetro mais DIY da cena artística de Brooklyn (e, inclusive, no radar da Matador Records), mas foi Everyone’s Crushed (editado no ano passado) que trouxe a faceta mais surrealista de Nate Amos e Rachel Brown para primeiro plano, abraçando a distorção das guitarras e sintetizadores num intrigante misto entre o desconfortável, o harmónico e o dançável, o minimalismo e o caleidoscópico. Esta ideia de uma rutura irreverente com os convencionalismos da pop faz lembrar a “criatividade incansável” dos Jockstrap, que atuaram na última edição, no mesmo palco Plenitude agora ocupado pelos nova-iorquinos. E depois de terem aberto os concertos da última digressão europeia dos Interpol, regressam a território nacional assumindo, desta vez, um merecido protagonismo.

Fotografias da Autoria de Bruno Ferreira @ DIREITOS RESERVADOS

Existe um certo reajuste nesta transposição dos elementos humanos e mecânicos da dupla para um modelo ao vivo, tanto por parte da banda como da própria plateia. Com Bailey Wollowitz a juntar-se a Brown nas guitarras e Al Nardo a acrescentar algum vigor na bateria, a voz e reflexões nostálgicas de Brown ficam propositadamente abafadas pela intensidade de tudo à sua volta (fazendo lembrar o propósito da voz cortante e angelical de Trish Keenan nos Broadcast), como no culminar crepitante de Out There. A presença em palco de Brown é igualmente distante, cavalgando timidamente por entre o caos controlado de faixas como Barley, Quotations ou True Life. Cada repetição rítmica dá lugar a um mar de imersão nas filas da frente que vê na abrasividade sónica e surpreendentemente acessível um estímulo inescapável. Uma balada como When You’re Around, feita em tons solarengos que encaixa na perfeição neste final de tarde inaugural, surge como uma anomalia por entre a idiossincrasia desgovernada que domina o alinhamento. Nos momentos finais da sua estreia no Porto, com a igualmente ténue 14, as guitarras rompantes voltam, sem pressa, a causar uma derradeira erosão visceral. O efeito desconcerta, mas a promessa dos Water From Your Eyes justifica a frenetismo.

A herança inebriante de PJ Harvey

Polly Jean Harvey: a carga do nome dispensa apresentações extensivas. Uma força da natureza que não para de se reinventar nas suas três décadas e meia de carreira, indo do glam rock ao grunge com enorme destreza, sem esquecer os pianos melancólicos de White Chalk ou, claro está, um dos mais impactantes álbuns de protesto dos últimos quinze anos. Assim sendo, o seu regresso ao ativo em 2023 com I Inside The Old Year Dying – largamente interconectado com Orlam, uma coletânea de poesia lançada no ano anterior – alarga o raio de visão que tem guiado os seus trabalhos pós-Let England Shake, recrutando novamente os colaboradores de longa data Flood e John Parish para emanarem cada tema com um melancolismo sombrio e esotérico.

Fotografias da Autoria de Bruno Ferreira @ DIREITOS RESERVADOS

Neste seu regresso ao Parque da Cidade depois de ter marcado presença na edição de 2016, ficou cimentada uma ponte entre as várias fases do legado incontornável de PJ Harvey, canonizando o seu estatuto atual de veterana sem nunca destecer cada ramo plantado ao longo de duas mãos cheias de discos transfiguradores. Se as paletes demasiado apaziguadoras de Prayer at the Gate e The Nether-Edge marcaram uma entrada em lume brando, coube a The Glorious Land e The Words That Maketh Murder não cederem aos problemas técnicos recorrentes com a guitarra de Polly e enaltecer a sua faceta mais política. Foi, inclusive, a primeira de várias paragens imprescindíveis deste seu comboio nostálgico com êxito atrás de êxito, amplamente estimadas pela maré de festivaleiros que ainda teve direito a um pôr-do-sol encantador (ainda que parcialmente bloqueado por algumas barreiras do recinto) ao som de Send His Love to Me. Com o anoitecer, acertaram-se a energia e os guarda-roupas para a porção mais eletrizante de todo o alinhamento, onde milhares envergavam os punhos para sentir de perto a eterna rebelião de 50ft Queenie, Man-Size e Dress. Nem seria preciso a dupla final das icónicas Down by the Water and To Bring You My Love para merecer mais provas vivas da sua mestria, mas, num dia em que a presença feminina foi nitidamente o grande motivo de realce, o convite não poderia ter sido mais oportuno para relembrar o esplendor de uma das suas maiores lendas, no máximo sentido da palavra.

A encenação humanista de Mitski

Nem quinze minutos passavam da despedida de PJ Harvey no Palco Porto quando, no lado oposto do recinto (e num anfiteatro natural com condições largamente superiores), surge Mitski em modo Bob Fosse, ao som de Everyone, a reajustar-se lentamente à peça performativa que está prestes a conduzir. “Posso estar em modo personagem, mas quero que saibam que vos amo a todos”, chegou a confessar. Muito mudou no seu percurso artístico desde a última atuação no festival, há praticamente sete anos. Uma popularidade inesperada e a ameaça de um futuro artístico rodeado de incerteza assombraram a “euforia sónica” de Laurel Hell, onde já se espreitava uma visível angústia “com a fama, o ofício e até mesmo com a forma como as suas criações são ou podem ser percecionadas e consumidas”. A arte, como uma extensão do nosso ser e da natureza com que interagimos, também não escapa a uma dada tendência autodestrutiva. E perante todas as hostilidades em seu redor, The Land Is Inhospitable and So Are We viu Mitski a reencontrar “o encanto no ‘poema’ da vida”, com reflexões antagonicamente belas que tão bem transformam “a incerteza da condição humana em réstias de esperança, mesmo quando rodeada pela escuridão do existencialismo”.

Fotografias da Autoria de Hugo Lima @ DIREITOS RESERVADOS

Com uma enchente de fãs a recebê-la a plenos pulmões, todos os elementos que deram luz a este seu regresso aguardado foram marcadamente teatrais. Quer personificasse um cão (I Bet On Losing Dogs) ou uma guitarra (The Frost), dance com um raio de luz durante Heaven ou se equilibre entre cadeiras em The Deal e First Love/Late Spring, a coreografia de Mitski faz do corpo, da alma e da língua um só veículo de emoção, ampliando a elegância comovente da sua música à escala de grandes palcos e, sobretudo, de grandes corações. Os arranjos instrumentais que suportam algumas das suas canções mais enigmáticas só reforçam a grandiosidade da apresentação no seu todo. A percussão adicional de Pink in the Night transforma uma balada celestial de pura devoção num número surpreendentemente animado, ao passo que Love Me More e I Don’t Smoke ganham uma segunda vida sob uma alçada mais country. É a orquestração dos temas maiores deste seu último disco, contudo, que melhor sinalizaram o caráter meticuloso e hipnotizante de um concerto que evoluiu dentro e fora do domínio da arte performativa. Se a serenidade cósmica de Star ou Bug Like An Angel continuam a atingir qualquer um com a sua intensidade cabal, é, sem surpresas, My Love Mine All Mine quem provoca um dos maiores espantos globais deste seu arrepiante cabaret filantrópico, com a artista a ser rodeada por uma série de objetos refletores, um coro enternecedor de refrões e um mar de lágrimas silenciosas. Muito antes de Nobody e Washing Machine Heart selarem a noite com chave de ouro, Mitski discursava sobre a finitude de cada ocasião e a possibilidade de encontrar o amor em quem nos é desconhecido – nomeadamente, nesta afável valsa a duas metades que provou ser bem mais saudável do que as que presenciou nas recentes digressões norte-americanas. E embora a mera presença de Mitski pudesse fazer crer algo divino para muitos dos presentes, o sentimentalismo, para além de recíproco, tornou cada momento passado ao seu lado tão mais familiar, transformativo e, acima de tudo, profundamente congregador.

A aliciante montanha-russa emotiva de SZA

Em pouco mais de sete anos, SZA mudou por completo o panorama do R&B em tempos modernos. Tudo em que se envolve é, quase por regra, despido de fachadas, muito pouco plastificado e assente numa vulnerabilidade no seu estado mais errático e carnal. CTRL – visto, desde então, como uma das bandas sonoras definitivas da década passada – viu a norte-americana estrear-se nos álbuns já em plena forma, mostrando as múltiplas camadas de insegurança escondidas por detrás de uma das maiores artistas da atualidade. E apesar de não ser “tão transformador e coeso como o seu antecessor”, SOS tornou-a ainda mais relacionável aos olhos de uma geração inteira, apesar do estatuto de superestrela, entregando-se à autodestruição, incongruência e obsessão, sempre presentes na difícil tarefa de se querer ser amado sem nunca temer a queda. Mais do que um exercício constante de maturidade e autoconsciência, SZA encarna, melhor do que ninguém, as más decisões e os riscos de agir antes de pensar com uma enorme liberdade emocional e artística, percorrendo diferentes estilos e moods como quem não tem tempo a perder.

Fotografias da Autoria de Bruno Ferreira @ DIREITOS RESERVADOS

Cada instante da sua estreia em solo nacional é, por igual, pautada por esta sua volatilidade em todas as frentes. Orbitando entre uma variedade de cenários náuticos discretamente alusivos à capa de SOS (uma réplica, por si só, desta fotografia emblemática da Princesa Diana numa prancha de mergulho), vemo-la, pela primeira vez, emergida por uma plataforma a sincronizar corpo e voz para as pulsantes Seek and Destroy e Love Galore (com o verso de Travis Scott propagado pela imensidão do recinto). Apesar de se manter em sincronia com o destemido grupo de dançarinas que a circunda ou de ver a sua presença amplificada pela banda de suporte, a capitã do navio nunca abandona o seu posto. A voz da SZA, para lá da sua imponência e elasticidade indiscutíveis, sobressai-se a todo e qualquer adereço de produção, como acontece nos refrões monumentais de Blind ou nas harmonias sumptuosas que dão impulso a Garden (Say It Like Dat), Drew Barrymore e The Weekend. Por entre os números de R&B mais convencionais, no entanto, coube à espiral de deambulações estilísticas alterar o plano de rotas, mas nunca o seu ponto de chegada. F2F, por um lado, mostra-se capaz de incorporar um pop punk arrojado e irresistível, ao passo que, em Forgiveless e Low, demonstra a sua imensa habilidade nas fórmulas dominantes do hip-hop, com homenagens a Ol’ Dirty Bastard e uma bola de demolição à mistura. E para quem ainda duvidasse do estatuto de estrela pop que SZA nunca deixou de personificar, o cover de Kiss Me More e Kill Bill (com direito a espadas de samurai) incendiaram novamente a plateia antes de um final que conseguiu roçar a perfeição. Despedindo-se com Good Days e, durante um inesperado encore, a acústica 20 Something, SZA aprecia a aura onírica que se ergue depois da tempestade no seu posto de partida, pronta para mais navegações e decidida a manter o fascínio dos seus tripulantes. 

A after-party irresistível de Ana Frango Elétrico

Na música de Ana Frango Elétrico, espera-se sempre o inesperado. Já abraçou “uma estética quase retro-futurista, deslizando algures entre um jazz sofisticado e um samba eletrizante”, ou então os tons radiantes da tropicália envolta de psicadelismo. Com Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, o projeto de Ana Faria Fainguelernt voltou a vestir uma nova pele metamórfica com a mesma dose de desembaraço e heterogeneidade a que nos tem acostumado. É um terceiro álbum que “não poupa em loucuras, para benefício de quem o escuta, mas principalmente de quem o idealiza. Virando o foco para as sonoridades do funk e do disco, reforçando ainda a aposta em arranjos orgânicos”, traz-nos dez frenéticas canções repletas de “intimidade e romantismo, onde o amor e a identidade andam permanentemente de braços dados”, e que merecem ser celebradas em comunhão. Apesar da espera ter sido longa para presenciar a sua pista de dança frenética em solo português, o sucesso dos primeiros espetáculos mais do que justificou a sua entrada na programação à última hora para dar resposta ao cancelamento da cantora alemã Kim Petras.

Fotografias da Autoria de Hugo Lima @ DIREITOS RESERVADOS

Ainda que se tenha apresentado perante um Palco Vodafone inicialmente a meio gás, um concerto de Ana Frango Elétrico é um mote garantido de divertimento e nenhum dos sobreviventes quis faltar à palavra de ordem da madrugada. Por entre os ritmos incendiários de Dr. Sabe Tudo, a evocação de Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo (que tinham marcado presença na cidade invicta no dia anterior) para a jubilante Debaixo do Pano ou os covers eternamente agradáveis de Crystal Waters e Marcos Valle, estava feito um convite irrecusável para os sobreviventes se juntarem à efusão da dança. Não faltaram, numa outra ótica, as explorações queer e da não-binariedade que contornam tanto Camelo Azul, com a sua atmosfera cinemática que equiparam Ana Frango Elétrico à personagem “do seu próprio film noir”, e Insiste em Mim, “uma serenata à intensidade de qualquer amor, mas acima de tudo, à singularidade de cada um”. Depois de um período de agradecimentos sentidos, ficaram reservadas para os instantes finais as duas faixas mais imperiosas desta sua pista de dança – Mulher Homem Bicho e Electric Fish – para abarcar, por uma última vez, toda a loucura contida que Ana Frango Elétrico tão bem consegue emanar e transpô-la em tudo aquilo que faz do ser humano profundamente único.

No segundo dia do Primavera Sound Porto 2024 (7 de junho), atuam os cabeças-de-cartaz Lana Del Rey e Justice, ao lado de artistas como The Last Dinner Party, Tirzah, Tropical Fuck Storm, This Is The Kit ou os portugueses MAQUINA. Segue toda a cobertura da 11ª edição do festival no nosso website e nas redes sociais da CONTRABANDA.

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