Nova tendência: pregar aos peixes em concertos
Esta rubrica para o #TudoPelaCulturaNadaPelaCooltura é dedicada a todo o público português. A questão das conversas paralelas durante os concertos (do início ao fim) é mais pertinente que nunca. Estamos tão fartos disto, que até lançamos uma campanha de t-shirts para lutar contra esta trend. Para isso, precisamos da tua ajuda para calar os Padres Antónios Vieiras desta vida…
Antes da pandemia, o falatório exacerbado em concertos já era algo existente. Contudo, parecia limitado a festivais de maiores proporções e com cartazes mais díspares (que atraem sempre diversos tipos de público que não se misturam propriamente). Agora, as conversas de café em plenas atuações, já não estão só confinadas aos Alives e Rock in Rios deste país, mas sim, em TODO O LADO!!! E esta epidemia não escolhe idades! Já não são só os mais novos, até as gerações mais velhas vão para concertos meter conversa com os miguitos e família.
É certo que a pandemia causou um isolamento generalizado, e depois, quando finalmente tivemos a oportunidade de desconfinar, havia muito o que colocar em dia. No entanto, já se passou mais de um ano desde o fim das restrições do uso de máscaras. É preciso virar religioso e pedir aos céus outra pandemia? Uma que vos meta novamente uma máscara na matraca para desfrutarem de concertos sentados, distanciados e calados????
Levamos uma experiência de 24 anos neste cenário musical, testemunhamos transformações significativas de gente ao longo do tempo. No entanto, a mudança que ocorreu na era pós-Covid é absolutamente inédita. A sociedade portuguesa tem é mesmo falta de educação cultural e social. (E sim, é mais portuguesa do que estrangeira, nem venham atirar as culpas para os vizinhos europeus que passam cá de visita.) Também pudera, tendo em conta o desrespeito que os nossos governantes têm pela nossa Cultura, como podemos esperar que o Manel e a Maria que já só têm dinheiro para um festival ou concerto por ano, fiquem de bico calado no mesmo? Não queremos dar numa de gatekeepers da música. Seja a vossa presença frequente ou esporádica no cenário musical, é sempre bem-vinda: desde que tenham respeito pelo trabalho dos artistas e fãs dos mesmos.
Questão: aos preços que os festivais e concertos estão, quem são os abjetos, sem noção, que pagam para ir falar aos 7 ventos? Sabem que podem falar da vida da vizinha, literalmente NOUTRA ALTURA QUALQUER DO ANO? Está música a ser feita ao vivo, e esta gente a desrespeitar um ato que é quase divino. #facepalm Uma coisa são as festas de aldeia, outra, são eventos cujo o único propósito é verem e ouvirem a primeira arte a ser feita na hora. Comentar coisas durante uma perfomance? Tudo bem. É natural e faz parte. Mas ficar uma hora a bravar aos céus sobre assuntos que nem para aquele contexto são pertinentes, é condenável.
Exemplos: Na frontline de Kim Gordon, tivemos de pedir a um fã (que até tinha uma t-shirt da mesma) para se calar. No Primavera Sound ouvimos um abutre da Remax a tentar vender um apartamento em pleno show do Kevin Parker. Já em Men I Trust no NOS Alive saímos ao fim de 3 músicas por simplesmente não conseguirmos ouvir a banda. Em Vilar de Mouros, vemos o nosso pai, um veterano de festivais a ter de implorar a grupos de Gen X (sua geração) para por favor apreciarem os concertos, sem Ted Talks. E isto não é nem um centésimo das experiências que temos para contar! Até em concertos em nome próprio, como foi o caso das Warpaint no Porto, o falatório ocupou metade da sala (a sala esgotou, leva 1000 pessoas, e 500 decidiram que era mais importante falar do Joaquim que casou o ano passado ou da Amélia que torceu o pé a andar de mota).
Então em 2023 só estamos a salvo em concertos de metal, punk e grindcore? E até em grindcore temos uma história semelhante, mas vamos enterrar isto na memória. Já chega de mimimis. Fomos já simples e sucintos nesta problemática.
Lançamento da campanha – Desculpe…#shuthefuckup
Todo este desrespeito, suscitou a tomarmos medidas passivo-agressivas. Por isso, lançamos uma campanha de t-shirts em serigrafia para usarem nos locais mais adequados. As t-shirts são uni-género, e estão disponíveis nos tamanhos S, M, L, XL e XXL . São 100% de algodão, entrega imediata e custam 12 paus.Para encomendar basta mandar MP pelas nossas redes de Instagram, Facebook ou por correio para geral@contrabanda.pt.
É um último recurso para evitar interpelações ainda mais desagradáveis. Uma espécie de “Tira o casaco in case of emergency” (não andem feitos Tonys com isto na rua, por favor).
Todos os lucros revertem para a manutenção do site, e para os redatores e fotógrafos que tornam isto possível. É uma maneira de não pedincharmos por dinheiro, e de oferecer algo em troca a uma comunidade de melómanos que nos tem acompanhado ao longo destes dois anos. Sabemos que desse lado há muito boa gente que ainda sabe apreciar um bom concerto! Bem hajam!
Enviamos por correio para todo o país e entregamos em mãos no Porto, em Lisboa, em Guimarães e em Fafe (em locais a combinar). Mais info: basta entrarem em contacto connosco.