Álbuns a Destacar no Primeiro Semestre de 2022

Já sabem que o Rubén Francisco vive e respira música. Por isso, de acordo com este nosso expert melómano, estes são os seus 17 álbuns mais notáveis dos primeiros 6 meses do ano. E vocês, que opinam?

Cate Le Bon – Pompeii 

Quase todos os álbuns de Cate Le Bon foram fruto direto de isolamento. Ela sempre gostou de separar-se do resto mundo para poder liberar a sua mente em força total, mas dessa vez viu-se forçada a fazê-lo. Isso fez de Pompeii um álbum que a todo momento arranha a fina superfície entre solitude e solidão, transformando-se assim no seu álbum mais claustrofóbico até hoje, criando uma necessidade ao ouvinte de permanecer até à sua última respiração. 

Suas letras aqui mantêm-se peculiares, mas com a seriedade de alguém realmente preocupado com o seu legado, e “sair dessa viva”. É o multidirecional leque de sons que funciona como uma roda condutora para esse testamento. Stella Mozgawa, integrante da banda Warpaint, usa a bateria como um perfeito eco, enquanto Le Bon ao tocar todos os outros instrumentos com exceção do Saxofone, deixa claro o porquê de cada nota parecer entender completamente as emoções que essas músicas tentam passar. 

Beach House – Once Twice Melody 

É fácil ver todo artista de Dream Pop como monótono, e é verdade que este não é um gênero que particularmente tenha muita margem de manobra. O que faz com que a crescente popularidade de bandas como Cigarretes After Sex, mantenham-se um total mistério. Por outro lado, o duo composto por Victoria Le Grand e Alex Scally, depois do popular álbum Bloom (2012), estiveram a todo tempo a fugir desta monotonia. 7 (2018), seu álbum antecessor fortemente conduzido por Shoegaze e Rock Psicadélico, fez a voz de Le Grand fundir perfeitamente nas suas sombras, e possibilitou-nos ver o duo seguir por um caminho que há muito não era tão excitante. 

Once Twice Melody é uma trilha de quase uma hora e meia, que desdobra voz e som sem deixar nenhum sinal de exaustão em todo o seu percurso. Uma declaração ousada que pede nada além de tempo para ser apreciada. 

Tempers – New Meaning 

Novo álbum dos Tempers é um melódico e sombrio Darkwave, que busca influência no Synth-Pop radiofônico dos primeiros anos de carreira dos Depeche Mode. New Meaning é mais um dos álbuns que reflete os tempos de quarentena, mas carrega uma atmosfera noturna que remonta a momentos de mais introspeção, e a quieta busca por significado dessa altura. 

Placebo – Never Let Me Go 

A subversão de métodos na construção deste álbum, entregou aos Placebo uma mão de cheia de experimentos incapazes de serem reproduzidos em qualquer momento mais à frente da sua carreira, inclusive ao vivo. A última vez que a banda arriscou tanto, foi em Sleeping With Ghosts (2003). É um refrescante recomeço depois do recebimento agridoce de Loud Like Love (2013).  Como outrora mencionei

Keeley Forsyth – Limbs 

A liberdade e a nuance na voz de Keeley Forsyth, soa como se tratasse de uma que jamais espera ser ouvida. É essa mesma voz que carrega todo álbum de forma impactante e dramática, sempre no centro ou na sombra, suavemente mesclando o eletrónico com orquestral, queima lentamente até reduzir tudo em cinzas.  

iamamiwhoami – Be Here Soon 

O mais recente álbum do eletrónico duo sueco formado por Jonna Lee e Claes Bjorklund, é o seu mais despojado, mas longe de não ser exponencial por isso. É indubitável que o duo sabe conectar com a sua audiência de maneiras que muito poucos artistas conseguem hoje em dia, através do seu som cinemático que até aqui sempre ganhou vida. Be Here Soon é uma celebração à vida e ao seu percurso artístico, que subtilmente na sua produção contida, continua a desvendar habilidades ímpares. 

Zola Jesus – Arkhon 

Se Okovi (2017) é a sumarização das partes de todos os estilos musicais por quais Zola Jesus navegou durante a sua carreira, Arkhon é a disjunção de cada uma dessas partes, forçando o ouvinte a apreciar cada elemento com a maior singularidade possível, sem nunca deixar o seu universo. Por momentos, The Fall é capaz de soar como uma música escrita originalmente para Sia; Sewn alguma faixa de Siouxsie and The Banshees, e por algum motivo, neste álbum é impossível achar-se esse encontro absurdo.  

Perfume Genius – Ugly Season 

Ugly Season carrega consigo o Pop desconstruído e bizarro de Forget (2017) por Xiu Xiu, e a inacessibilidade de Aviary (2018) por Julia Holter, mas num cenário muito menos lúcido e mais distorcido como ilustra a sua capa. Um álbum que não se contentou com a riqueza das suas referências, e expandiu-se em um total estado de transe, que facilmente se tornará um pivot na discografia de Mike Hadreas

Warpaint – Radiate Like This 

Warpaint é uma banda que sempre pareceu ter um potencial que nunca atingiu a sua totalmente capacidade. Neste álbum, isto chega próximo de acontecer. A atenção aos detalhes na produção, tornam mais fácil agarrar-se as rédeas de essas faixas que em cada audição impregnam-se. Nada aqui é inovador, mas é o reflexo de uma banda que finalmente teve um momento sonhador sem interrupção. 

The Smile – A Light For Attracting Attention 

A Light For Attracting Attention é um título de álbum estranho para uma banda que, receberia muito mais tração e atenção se o lançasse sob o seu nome que carrega mais de três décadas de popularidade. Quer dizer, essencialmente este poderia ter sido o décimo álbum dos Radiohead em muitos aspetos, não inteiramente por formação, mas na essência lírica e sonora. 

Para quem não é muito fã do experimentalismo orientado por bateria e efeitos eletrónicos que têm sido comuns desde In Rainbows, encontrará aqui um segmento orgânico de Hail to the Thief. You Will Never Work In Television carrega o mesmo sentido de emergência que 2+2=5; A melodramática Free In The Knowledge deixa uma pegada emocional similar a Wolf At the Door; ou até mesmo os riffs memoráveis de Scratching the Surface, constroem uma tensão mais fácil de gerir a cada audição. 

Mitski – Laurel Hell 

Esse é o primeiro álbum de Mitski em que as suas ideias para cada faixa, parecem encaixar-se na marca dos quase 3 minutos sem sufocar. Uma pulsante coleção de músicas com referência aos anos 80 que não soa como uma cópia carbono de nada dessa década. Os metalizados sintetizadores trazem a voz de Mitski ao de cima, não como se erguesse do fundo do mar, mas como se finalmente fosse atingida pela gravidade. Laurel Hell é um álbum com os pés assentes na terra. 

Toro y Moi – MAHAL 

Apesar de ser o pioneiro do chillwave, Chazwick Bundick mostrou-nos desde o primeiro momento que esse não é um registo em que se manteria para sempre. Suas influências são vastas o suficiente para não se restringir em apenas um estilo musical, por isso todos os seus álbuns sofrem uma volta drástica em tom. MAHAL é uma dessas mudanças. Segue o caminho da dançante e bem-humorada atmosfera apresentada em Outer Peace (2019), mesclado com o jazz experimental desenvolvido no seu álbum colaborativo com os Mattson 2, que também marcam presença aqui. É um álbum que se expõe em praça pública, de tal maneira que é difícil não dar por ele. 

Animal Collective – Time Skiffs 

Quem diria que desmontar o som faria maravilhas ao habitual exagerado e alucinante som a que Animal Collective nos acostumou. A simplicidade desse álbum cimentou um pouco de profundidade a essa banda que maioritariamente é apenas divertida. E ser uma banda com a diversão como premissa, é rigorosamente nada mau, mas seus últimos álbuns pareciam estar em estado de ressaca, em que mesmo que a festa esteja a acontecer, é quase física e mentalmente impossível divertir-se – o que faz com que por agora seja bom testemunhar alguma lucidez. 

Molly Nilson – Extreme 

Extreme é como um móvel de design que, de longe, dá para perceber que não é do IKEA. Seus detalhes destacam uma paleta sonora voyeur, dançante e sombria, através de títulos que se revelam não tão literais. A atmosfera esfumaçada deste álbum, torna-o uma viciante coleção de canções que atravessam pelo tempo sem nada a declarar. 

Tirzah – Highgrade (Remix Album)

O inquietante segundo álbum de Tirzah, Colourgrade (2021), abriu uma escapatória que desafiou tanto o resto da sua discografia, como o cenário musical num todo. É possível sentir a intimidade narrada em cada uma das faixas, com uma proximidade que pode até ser desconcertante – como o amor de uma mãe ao seu filho, a narrativa literal deste álbum. Nesta coleção de remixes do mesmo álbum, versões como de Arca e Lafawndah, expandem o seu som para lugares ainda mais abstratos, quase inexistentes, contrastando com as subidas de tom nas versões de Loraine James, Fauzia e Still House Plants. Essa disparidade sonora cria um espaço lounge no álbum, que permite experimentar um orgânico estado de dissociação

Jenny Hval – Classic Objects 

Cantautora, Jenny Hval, conta estórias com detalhes que nunca parecem ser desnecessários. Sua habilidade de usar o som para a narrativa de todas essas estórias, fazem a sua discografia soar como a trilha sonora para a arte no geral. É um álbum Pop que tem tanto de denso como de leve, uma reflexão dela como artista. 

Nilüfer Yanya – PAINLESS 

Há muito tempo que não há um álbum de Indie Rock com melodias e refrões tão instantâneos como esse. O que poderia ser mais um álbum inexpressivo dos tempos modernos, revela-se descontraidamente catártico em todos os seus contornos. 

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