Estreia de Rubén Francisco nas resenhas: Placebo – Never Let Me Go
De Luanda para Portugal, e de Portugal para o Mundo! É com um orgulho ENORME que vos apresentamos o nosso mais recente crítico musical: o Rubén Francisco. Este melómano assumido, tem um amor exacerbado por Placebo. Pelo que, logicamente, a sua primeira resenha, teria de ser sobre esta banda de eleição…
Género: Alternative Rock
Data de Lançamento: 25/03/2022
Never Let Me Go, o mais recente álbum de inéditas da banda Londrina, Placebo, marca o fim do seu maior hiato em formato LP desde o homónimo álbum debut Placebo (1996). Entre este álbum e o seu antecessor Loud Like Love (2013), muito aconteceu.
A banda solidificou-se como um duo após separação com o baterista Steve Forrest. Seus membros fundadores, Brian Molko e Stefan Olsdal, lançaram-se numa turnê de celebração aos 20 anos de carreira que colocou em questão o futuro do duo, como Olsdal citou em uma entrevista para a revista NME:
“Essa tour durou muito tempo, e começamos a ter essa relação pouco saudável com nosso material antigo… Senti que durante a última turné, a banda acabou e que eu não poderia continuar com isso”.
Não é surpreendente que após uma fase de aversão ao seu catálogo, eles quisessem soar totalmente diferentes, recorrendo a métodos que de alguma maneira os motivasse. Desde a técnica de corte de William S. Burroughs em Surronded by Spies para expressar seus pensamentos desconjuntados sobre a espionagem nos tempos modernos, à inversão de todo seu habitual processo criativo. Pensar na capa, título do álbum e das canções antes mesmo das letras e sons sequer existirem.
Este cenário, abriu espaço para uma série de ruminações sobre pensamentos fugazes, como se pode observar na intoxicante Beautiful James, uma balada escrita no piano sobre acordar o seu amor para fugirem juntos na época do Brexit, um sentimento complementado na faixa Chemtrails onde essa vontade é decisiva:
“I’m gonna find another Island / And get the hell out of here / I need a change of environment / So I can disappear”.
Durante todo álbum, a temática sobre desaparecer é recorrente, seja pelo desaparecimento de um ente-querido e como isso nos pode ausentar da sociedade em Happy Birthday in the Sky; o desaparecimento de um mesmo em Went Missing e Fix Yourself, esta última que em sua melodia recorda How To Disappear Completely dos Radiohead; e até o desaparecimento da espécie humana em Try Better Next Time.
Em termos sonoros, a banda quis soar brutal, influenciados pelo álbum Yeezus de Kanye West. Isso é evidente na infeciosa e metálica faixa de abertura Forever Chemicals, seguido de um barulhento e pesado som de guitarra e sintetizadores em Hugz, influenciada por uma das suas bandas favoritas Sonic Youth, e uma frase tirada diretamente de um episódio de Doctor Who. Em The Prodigal, Brian Molko celebra os seus heróis, uma faixa que quase se tornou uma cópia de Where Is My Mind dos Pixies, e acabou por se consolidar como um clássico que nos lembra Under Pressure de David Bowie e Queen, e toda amagnificência de Meds (2006) um dos álbuns mais aclamados da banda.
Em suma, tal como a sua capa, Never Let Me Go tem uma fragmentada e cintilante paleta de cores sonora que por vezes brilha à distância, e em outras vezes precisa ser vista através de uma lupa, e tal como Sleeping With Ghosts (2003), representa uma mudança necessária para a banda, rumo a um caminho que os deixaremos ir.