Os Destaques de Fevereiro 2022
Black Country, New Road – Ants From Up There
Género: Post-Rock
Data de Lançamento: 04/02/2022

Black Country, New Road. É este o nome da banda que, desde a sua rápida ascensão na Windmill Scene, ao lado de bandas como black midi ou Squid, se tem afirmado como uma das maiores sensações britânicas dos últimos tempos. É o grupo que surpreendeu tudo e todos com um brilhante álbum de estreia, For the First Time, trabalho este que transpõe na perfeição a vivacidade e o caos das suas atuações ao vivo. Acima de tudo, falar dos Black Country, New Road é falar da existência de um sentimento geral de que algo realmente marcante e único ainda está para vir. Ants From Up There, lançado cerca de um ano após For the First Time, é esse marco especial por que muitos aguardavam.
Se ignorarmos que grande parte das canções de Ants From Up There são até anteriores ao álbum de estreia, a metamorfose artística que o grupo sofre no seu segundo álbum já parecia algo evidente pouco depois do lançamento de For the First Time. Troca algumas das bases de post-punk e klesmer do primeiro disco por um foco completo no post-rock. É mais solene, embelezado e denso, até epopeico em várias ocasiões. Não necessariamente mais acessível, mas mais absorvente e dinâmico. Pode ser menos eletrizante, mas encapsula na mesma a essência da banda ao vivo, a mistura improvável das guitarras de Luke Mark e Isaac Wood, do saxofone de Lewis Evans, do violino de Georgia Ellery, da bateria de Charlie Wayne, do baixo de Tyler Hyle e das teclas de May Kershaw. A beleza da instrumentação lembra Illinois, Talk Talk ou Steve Reich (até mais do que Arcade Fire, não me revendo muito nessas comparações), mas seria uma afronta perante um trabalho que se revela ser tão revolucionário estar a salientar muito as suas possíveis influências ou comparações.
Tal como a já referida instrumentação, a própria escrita e voz de Isaac Wood transpõem, de igual forma, a gigante ambição de Ants From Up There. As letras de Wood conseguem ser ainda mais efetivas do que anteriormente, para o qual também contribui a urgência e a emoção transferida do papel para as performances. Contos de amores passados e perdidos, solidão e saudade, depressão, evolução e expectativas (de nós mesmos e dos outros) misturam-se com um cariz metafórico já habitual na sua escrita, referências que ao início parecem algo soltas, mas que unem de certa forma todos os temas e faixas de Ants From Up There.
Chaos Space Marine é um magnífico pontapé de saída e sem dúvida o tema mais agitado de todo o álbum, com uma atuação apropriadamente teatral de Isaac Wood. Concorde, mais um dos 4 singles de Ants From Up There, é a raiz do trabalho todo, uma canção cheia de vida e central para a narrativa, com o descontinuado avião comercial a simbolizar o amor que Isaac relata ou o escape que tanto parece procurar.
Bread Song é relativamente discreto na parte instrumental quando comparado com os temas que o antecedem, mas igualmente ornamentado na sua estética e tocante na parte lírica. É até com alguma surpresa que Good Will Hunting surge logo a seguir, se calhar uma das canções com mais pop shticks que os Black Country, New Road alguma vez compuseram, com uma escrita bastante visual a dar ainda mais valor à mesma. Ainda antes das últimas três faixas, há que destacar a agradável simplicidade de Haldern, o improvável resultado de uma improv session num festival dessa mesma cidade (entre Athens, France e uma cover da Say It Isn’t So dos Weezer, ainda por cima), e Mark’s Theme, que conseguem delicadamente formar um confortante e necessário momento de transição para os últimos golpes de génio que Ants From Up There ainda tem para oferecer.
Arrisco-me a dizer que The Place Where He Inserted The Blade, Snow Globes e a tão aguardada Basketball Shoes são um trio quase perfeito de canções para fechar um álbum extremamente bem sequenciado, tendo em conta a variedade das composições. A primeira das três é simplesmente deslumbrante, desde a secção de piano que inicia a faixa até ao coro de vozes que encerra aquela que é mais um excecional exemplo de Isaac Wood enquanto escritor e frontman. A segunda é a música mais prog-rock do projeto, desde a sua evolução até à experimentação da bateria de Charlie Wayne. Mas, acima de tudo, o maior destaque desta última secção de Ants From Up There é, sem sombra de dúvida, Basketball Shoes – a faixa que encerra um trabalho quase perfeito e que é também o seu maior feito. Parte post-rock, parte math rock, com três passagens distintas, é uma canção de proporções épicas e com um final explosivo que serve como o inacreditável clímax de um álbum recheado de emoções fortes e de temas introspetivos e enternecedores.
Porém, há uma questão incontornável que marcou a semana de lançamento de Ants From Up There. 4 dias antes do mundo ficar a conhecer o segundo trabalho dos BC,NR, o vocalista, Isaac Wood, anunciou o seu afastamento do grupo, por razões de saúde mental. Logicamente, é um acontecimento marcante no percurso da banda, não só por ser um dos sete (agora seis) membros da banda, mas por ter na voz e escrita de Wood uma das suas maiores valências. Quando agora se escutam as suas letras, neste segundo trabalho, as temáticas do álbum ganham nova forma, e, se calhar, o escape que Isaac deseja em Ants From Up There é talvez a sua agora conhecida saída da banda, o afastamento de um lugar de muita pressão e que poderia bem ser a principal razão do seu sofrimento.
Com For the First Time, já era mais do que percetível que os BC,NR estavam a criar algo único. Com Ants From Up There, o estonteante segundo trabalho do grupo britânico e o culminar desta primeira fase da banda, conseguem mesmo roçar a perfeição. Se há um álbum que parece ser indispensável e essencial no panorama atual da música rock, é este. Só daqui a largos anos vai ser possível medir o seu real impacto, mas álbuns como Ants From Up There são uma raridade por alguma razão.
Mitski – Laurel Hell
Género: Art Pop; Synth Pop
Data de Lançamento: 04/02/2022

Quatro anos passaram desde o lançamento do quinto álbum de Mitski, Be the Cowboy. Desde então, lentamente foi-se distanciando da vida pública e de qualquer presença em redes sociais, mas a peculiaridade deste hiato é que, por muito que Mitski se tenha isolado da sua vida artística, o mundo, mais do que nunca, conseguiu conectar-se com os seus trabalhos. Os seus temas foram ganhando a reputação que a artista tem vindo a evitar, englobando-os no cómico conceito de sad girl music. Ainda assim, foi precisamente a sua perspetiva de vida devastadora e angustiada que cativou fãs de indie rock com álbuns como Bury Me at Makeout Creek ou Puberty 2. E, por muito que este aspeto tão característico da artista se tenha mantido no ADN de Be the Cowboy, foi nas sonoridades que se verificou a maior mudança.
Laurel Hell, o sexto trabalho de estúdio de Mitski, é ainda mais sonicamente distintivo quando posto ao lado do resto da sua discografia, com uma forte aposta no synth pop, metendo igualmente alguns traços de art pop ao barulho, tal como em Be the Cowboy. Temas como The Only Heartbreaker, Love Me More ou Stay Soft, todos eles singles de Laurel Hell, são cativantes do início ao fim e, sem dúvida, algumas das músicas mais sonicamente eufóricas do já vasto catálogo de Mitski. Por outro lado, a faixa de abertura Valentine, Texas ou Heat Lightning são momentos mais austeros, mas igualmente ricos na parte instrumental e lírica.
Outro aspeto de Laurel Hell que se afasta dos seus outros álbuns é, ainda que maioritariamente abordado de forma subliminar, a exploração do reverso da medalha do seu papel enquanto artista. Working For The Knife, o single de apresentação, é o exemplo mais literal desse tópico, com Mitski a expressar essas inseguranças de forma bastante poética e até ambivalente, detalhando com subtileza a relação entre capitalismo e arte, bem como os efeitos derivados dessas limitações criativas.
Onde Laurel Hell também surpreende, neste caso pela negativa, é na sua inconsistência. Pondo de parte os singles, são escassos os restantes temas em destaque num álbum que já de si é curto (algo que não é nenhuma novidade nos trabalhos da artista). Juntamente com a já falada faixa de abertura, é Should’ve Been Me a outra música que sobressai no que toca aos album cuts, por muito que demore um pouco a revelar a energia que é tão fácil de identificar nos outros temas de synth pop do disco. Mas, por cada The Only Heartbreaker ou Working For The Knife existe Everyone ou There’s Nothing Left for You, momentos menos polidos e que pouco acrescentam a Laurel Hell em termos de qualidade. As últimas duas faixas do álbum, I Guess e That’s Our Lamp, também sofrem do mesmo problema, sendo até demasiado abruptas para deixar qualquer tipo de impressão.
Por um lado, Laurel Hell contém alguns dos temas mais contagiantes e fervorosos de Mitski, com instrumentação exuberante a acompanhar, dando uma coesão sónica ao projeto que é de salientar, e com a sua escrita a continuar a ser uma das grandes valências deste novo álbum. Contudo, o que Laurel Hell tem de sofisticado também podia ter de consistente e impactante.
Animal Collective – Time Skiffs
Género: Psychedelic Pop
Data de Lançamento: 04/02/2022

Já passaram 6 anos desde o último álbum de estúdio dos Animal Collective, Painting With. E, se considerarmos que esse mesmo trabalho só contava com 3 dos 4 membros do icónico grupo, então de 6 anos passamos para praticamente 10. Em 2022, Time Skiffs volta a reunir Avey Tare, Panda Bear, Geologist e Deakin, uma década depois de Centipede Hz. Deste então, não se pode dizer que o quarteto tenha conseguido criar material ao nível de Feels, Strawberry Jam ou Merriweather Post Pavilion. A verdade é que o enorme legado deixado por este último também condicionou tudo o que veio depois.
A boa notícia é que Time Skiffs acaba por ser o melhor disco dos Animal Collective desde Merriweather Post Pavilion, mesmo que seja completamente diferente de tudo o que a banda fez anteriormente, tal como já é expectável para uma banda tão camaleónica. Balança os tons frenéticos de Centipede Hz e as sonoridades mais ambient de Tangerine Reef, o álbum visual lançado pelo grupo em 2018. É um trabalho de fácil audição, dominado pela calma e por um maior foco na melodia, mas com uma execução bem mais direta do que é costume.
Logo a abrir, Dragon Slayer e Car Keys partilham muitas das mesmas características. Ambas as faixas crescem lentamente de intensidade, com as inúmeras camadas de instrumentação a ficarem progressivamente mais densas, mas sem a necessidade de um clímax ou de uma evolução significativa para se tornarem intrigantes. Uma das grandes qualidades de Time Skiffs é a capacidade do quarteto dar o devido espaço a todos os elementos que dão som ao álbum, apresentando-os de uma forma, simultaneamente, liberta e controlada. É algo que acontece com Prester John, o primeiro single de Time Skiffs e um dos principais trunfos entre as suas 9 faixas.
Por outro lado, Strung with Everything é um dos momentos mais efervescentes e exóticos que o álbum tem para oferecer, enquanto Walker integra uma homenagem a Scott Walker por entre ritmos agradavelmente repetitivos. Cherokee é a faixa mais longa do álbum e também a que demora mais a arrancar, mas felizmente a vagarosa erupção de sons e efeitos na segunda metade da faixa disfarça algumas das suas restantes falhas. Não acontece o mesmo com Passer-By, que começa e acaba sem causar grande impacto, ou com We Go Back, faixa que é algo arruinada pelo irritantemente frequente uso de autotune. Por fim, Royal and Desire encerra Time Skiffs, fazendo lembrar algumas das faixas mais relaxantes e encantadoras de “Feels”.
Se o output dos Animal Collective desapontou na última década, o mesmo não se verifica com Time Skiffs. As tonalidades abrasivas que marcaram essa época são agora trocadas por uma maior objetividade e subtileza, com o quarteto a redesenhar as suas bases para soarem mais convencionais e acessíveis, sem perderem também a sua imersividade pelo caminho. Não chega aos calcanhares dos seus melhores trabalhos, mas Time Skiffs pode bem ser o primeiro passo para o renascimento de uma das bandas mais aclamadas do universo indie.
Big Thief – Dragon New Warm Mountain I Believe In You
Género: Indie Folk
Data de Lançamento: 11/02/2022

Se existisse um dicionário de bandas, Big Thief seria certamente sinónimo de evolução e de união. Ano após ano, Adrianne Lenker, Buck Meek e James Krivchenia sempre ambicionaram algo mais, com cada novo projeto a servir como mais uma etapa para se redefinirem e elevarem a fasquia aos olhos de quem os vê crescer. A subtileza de Masterpiece e Capacity deu depois lugar a um lado mais amadurecido dos Big Thief com U.F.O.F. e Two Hands (ambos lançados em 2019), o primeiro destes a ser o álbum mais sofisticado dos dois, e o segundo a apostar mais na crueza dos primeiros dois discos. É a olhar para trás que se percebe o antes e o depois que é assinalado com o sexto álbum da banda, Dragon New Warm Mountain I Believe In You, e o tão aguardado florescimento dos Big Thief em todos os aspetos que definem a sua música.
São muitos os pormenores que distinguem Dragon do resto da discografia do trio, mas é a sua ambição que sobressai. Num processo que levou vários meses, entre New York e Colorado, Califórnia e Arizona, os Big Thief criaram Dragon numa impressionante variedade de locais e sessões de estúdio, com James Krivchenia a assumir pela primeira vez a produção de um trabalho do grupo. E creio que todo este processo se reflete por completo no produto final, mais que não seja na sua heterogeneidade.
Para um double album com 80 minutos e 20 faixas, Dragon é tudo menos entediante. Quer falemos dos ritmos cativantes de Time Escaping, dos tons de americana de Spud Infinity, Red Moon e Blue Lightning, ou da serenidade de temas como Change, Certainty ou Sparrow, as ideias que os Big Thief aqui apresentam são, no seu pior, minimamente intrigantes e, no seu melhor, sublimes.
Dragon nunca assenta num só estilo e utiliza-os à exaustão. Por cada 2 ou 3 faixas que espelham o mais recente trabalho a solo de Adrianne Lenker (songs, lançado em 2020), como é o caso de Dried Roses, Promise Is a Pendulum ou The Only Place, surgem mais outras tantas que bebem de influências completamente opostas. Little Things, por exemplo, reaproveita as bases de “indie rock” predominantes em Two Hands, mas eleva-as a outro nível. A title track tem efeitos semelhantes, conseguindo ser ainda mais deslumbrante de escutar que muitos dos melhores temas de U.F.O.F.. Do acústico passamos para o digital, com Wake Me Up to Drive a ter uma drum machine no centro de todas os seus componentes. E quem fala destas faixas, também pode falar de No Reason, Simulation Swarm ou 12,000 Lines, visto que são tantas as valências de um disco como este.
A verdade é que Dragon New Warm Mountain I Believe In You consegue ser, mais do que um álbum, uma experiência. É a magia dos Big Thief na máxima força, com a consistência e a versatilidade a reinarem num trabalho que se assemelha mais a uma jam session do que às formalidades normalmente associadas a um álbum de estúdio. Não se trata só do que o trio consegue melhorar com o seu sexto disco, mas também da enorme quantidade de novas portas que Dragon abre para o futuro artístico dos Big Thief. Coincidentemente, ouve-se já nos instantes finais do álbum a seguinte frase: Okay, what should we do now?. Com Dragon, os laços entre Adrianne, Buck e James só se intensificaram, a fasquia foi elevada, a moral também, mas para o trio, o que importa agora é o que ainda se segue na estrada.
DJ Nigga Fox – Música da Terra EP
Género: Batida
Data de Lançamento: 11/02/2022

Na sua primeira coleção de novas faixas após o lançamento do seu álbum de estreia, Cartas na Manga, em 2019, a batida de Rogério Brandão, mais conhecido como o enigmático DJ Nigga Fox, nunca foi tão irresistível. As quatro faixas que dão forma a Música da Terra são simplesmente eletrizantes, naquele que é possivelmente o seu melhor EP até ao momento e mais uma excelente adição ao catálogo da Príncipe.
Madeso, a faixa de abertura de Música da Terra, tem uma impetuosa progressão, com cada introdução de um novo elemento a tornar o tema ainda mais magnético. Sanzaleiro, em colaboração com DJ Firmeza (seu companheiro de editora), partilha a mesma explosividade, enquanto Gás Natural alterna subtilmente entre secções mais vigorosas e outras mais calmas. Ainda falta falar de Sasuke, que proporciona uma agradável mistura entre as bases de batida e kuduro de DJ Nigga Fox e as sonoridades de IDM.
Beach House – Once Twice Melody
Género: Dream Pop
Data de Lançamento: 18/02/2022

Numa carreira artística que já se estende há 18 anos, a consistência continua a ser um dado assegurado em tudo o que os Beach House fazem. O duo de Baltimore composto por Victoria Legrand e Alex Scally dispensa grandes apresentações. Álbuns como Teen Dream (2010) e Bloom (2012) são lançamentos que inquestionavelmente definiram a última década. Em comparação, trabalhos como Depression Cherry e Thank Your Lucky Stars, ambos de 2015, soam a uma versão simplificada e menos envolvente das fórmulas de dream pop que tão bem tinham sido aplicadas no passado. Felizmente, 7 voltou a reacender as esperanças de novos picos para uma banda que preferiu reinventar-se do que ativar o modo de autopilot.
Once Twice Melody, o oitavo trabalho dos Beach House que surge 4 anos após 7, tem na sua base muitos dos elementos que marcaram o output da banda pós-Devotion. Ainda assim, é com este novo álbum que o grupo decide ir mais além em vários aspetos. Pela primeira vez na sua discografia, a dupla é totalmente responsável pela produção do material inserido em Once Twice Melody. Outro dado inédito para os Beach House é o facto deste mais recente disco ter sido faseado e lançado em 4 capítulos. Cada um deles pode captar moods ligeiramente diferentes, mas todos acabam por ter elementos em comum.
O primeiro e o segundo capítulo de Once Twice Melody proporcionam inúmeros momentos de plenitude sónica. A grandiosidade de temas como Superstar e Pink Funeral, por exemplo, pode-se atribuir à sua densidade instrumental, com guitarras, sintetizadores e orquestra a partilharem em várias ocasiões o mesmo espaço. Convém não ignorar as atuações de Victoria Legrand, que, por muito que fiquem frequentemente submersas no meio da instrumentação, proporcionam vários dos instantes mais marcantes do álbum logo na sua primeira metade, como em New Romance ou na ambiciosa Over and Over. Já Runaway investe muito em efeitos, ainda mais do que é normal para os Beach House, mas também merece o seu devido destaque.
É com os terceiro e quarto capítulos que a escala de Once Twice Melody começa a não jogar a seu favor. Estamos a falar de um álbum com 18 faixas e quase 90 minutos. É, sem dúvida, uma experiência imersiva, mas vai perdendo algum gás pelo caminho. Não é de todo uma questão de falta de qualidade das canções, mas mais da falta de memorabilidade de algumas delas, tais como ESP, Another Go Round ou The Bells.
Por outro lado, temas mais serenos como Sunset, Illusion of Forever ou Many Nights são uma lufada de ar fresco no meio de outras faixas que apostam mais na experimentação, como é o caso de Only You Know, com as suas sonoridades mais shoegaze (à semelhança do que já tinha acontecido com vários temas de 7), ou de Masquerade, que não se assemelha a mais nada no longo portfolio dos Beach House. Para finalizar o álbum, Modern Love Stories volta a trazer a dimensão épica do começo do disco, para mostrar por uma última vez a característica mais saliente de Once Twice Melody – a sua ambição instrumental.
Em 2012, os Beach House lançavam um dos dois álbuns que os colocaram no panteão do dream pop. 10 anos depois, Once Twice Melody não repete o mesmo feito, mas torna-se num dos trabalhos mais imersivos e inovadores da dupla. É a versão mais maximalista dos Beach House até agora, não existindo propriamente nenhuma secção que seja débil ao longo dos quase 90 minutos de música. Mas a duração de Once Twice Melody acaba por ser o seu maior inimigo, e tendo em conta a sua divisão em capítulos, é algo que resulta melhor em separado do que na junção das suas partes.
Bia Maria – do Roberto EP
Género: Singer-Songwriter
Data de Lançamento: 25/02/2022

No centro do terceiro EP de Bia Maria, do Roberto, temos as letras e voz de Beatriz Pereira e a companhia do seu piano. A atmosfera que gira à volta dos seus 4 temas é mais serena e intimista, algo diferente do que se encontra em Mal Me Queres, Bem Te Quero ou Tradição, mas a sua simplicidade acaba até por complementar o mundo que Beatriz pinta através dos seus contos e poemas e que nos convida a ouvir.
Roberto assume, desta vez, o papel de personagem central, deixando o José, já explorado noutros trabalhos, como um homem banal. Entre histórias de amor e tristeza, estações do tempo, manhãs e o silêncio da escuridão, Bia Maria navega pelas suas emoções e provoca os mesmos sentimentos – e, pelo meio, encontra-se.