Diddy e os segredos da indústria: Um Alerta para a Música Portuguesa

A verdade é que a indústria musical esconde muitos segredos. Poderes são abusados, vozes são silenciadas e comportamentos tóxicos são normalizados. E em Portugal? Até no nosso underground, a situação não é muito diferente. Muitos artistas e profissionais da música sofrem em silêncio, com medo de represálias e de verem as suas carreiras destruídas. E mesmo nós, com apenas este texto que nem irá totalmente ao fundo das questões, sabemos que vamos ser personas non gratas para alguns. Porém, é um artigo que já há muito tempo ponderávamos fazer, e agora, é inevitável falarmos deste paralelismo entre um escândalo internacional e a realidade portuguesa.

Contudo, não presumam que isso só acontece lá fora. Aqui em Portugal, até no nosso meio, a história é a quase a mesma (seja no mainstream ou no underground). Essencialmente por medo de represálias, a gente cala-se e finge que o “promotor tubarão a Norte e amigos”, não são claros predadores do meio. Que o “DJ bacana de Lisboa” que é amigo de todos os homens da indústria, mas que nos trata a nós mulheres e pessoas não conformes de género como pedacinhos de carne, não é claramente um sociopata com mommy issues. E que o “fotógrafo mediático que promete mundos e fundos” não tem em vista só o que está dentro da vossa singela lingerie. E aqueles artistas que se forçam a “novinhas”? Esse cheiro a pedofilia é a cereja no topo de todas estas “controvérsias”. Mas estas conversas nunca saem do ambiente de café e são apenas tidas para alertarmos as amigas. Já os nomes reais destes perpetuadores de comportamentos tóxicos, aqui e em todo o lado, nunca serão mesmos escritos.

São só homens cisgénero com este tipo de comportamento? Não. A ânsia de abuso e poder não é inerente a um só género. Este tipo de texto é para toda a gente desta indústria repensar nas suas atitudes. No entanto, do ponto de vista histórico, sociológico, estatístico e pessoal de quem vos escreve, a maioria têm sido homens a perpetuar isto, sim! Se houvesse um movimento #MeToo na música portuguesa, “caíam todos que nem tordos”. E quem diz na música, diz na televisão, no teatro e em tantos outros meios culturais (e não só).

Não podemos permitir que a música, que deveria ser uma fonte de alegria e expressão, se torne um palco para a escuridão.

  1. Educação: É preciso educar as pessoas sobre o que é assédio, quais são os seus tipos e como identificá-lo. A prevenção começa pela consciencialização. O Movimento Não É Normal tem sido um excelente educador de mentalidades, e repassarem aos seus posts à vossa comunidade, já é um ponto de partida.
  2. Mudança cultural: A indústria musical precisa passar por uma profunda transformação cultural. É preciso criar protocolos de conduta, promover a diversidade e o respeito, e punir severamente os agressores. Eventos culturais como a Convenção do Mil Lisboa ou o Talkfest da Aporfest têm convidado oradores a comentar sub-temáticas destas, de forma bastante eloquente.
  3. Quebrar o silêncio, se possível: Também é fundamental que as vítimas se sintam seguras para denunciar os abusos. Precisamos criar redes de apoio e garantir a proteção das pessoas que falam. As entrevistas do podcast Femina têm sido uma mais valia para compreender estes abusos de poder no meio musical, mas também abordam dezenas de tópicos pertinentes sobre as pessoas entrevistadas. Assim como o Projeto HeForShe e as suas filiais, têm contribuído para um alerta de comportamentos que não podem continuar a ser normalizados.
  4. União: Juntos, podemos criar um movimento forte e capaz de transformar a nossa indústria. É hora de nos unirmos e exigir mudanças reais.

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