Ano Malfeito dá o mote: Jesus Cristas, Chequillas e a surpresa de Chat GRP

Com o entusiasmo ainda a ecoar da antevisão ao Ano Malfeito, as expectativas pairavam no ar à medida que a noite de 28 de março se aproximava. Fafe vibrava com a promessa de três dias de música alternativa e independente, e o público, composto por uma comunidade alternativa e unida, estava ansioso por celebrar esta conexão.

Este sobressalto de confirmação (a escassas horas do início do festival), estava nos segredo dos deuses! E que bela surpresa! Sem estarmos a contar, de repente temos uma cara conhecida em palco: Francisco Cabrita, o alentejano mais internacional deste país 🤣 Estamos habituados a vê-lo por terras minhotas, mas sempre de lente em punho. Agora, salta da fotografia para os palcos, dando voz a este novo projeto que partilha com amigos e conterrâneos de longa data: Zé Rego no baixo, Pedro Pac na guitarra e Chico na bateria. O nome, Chat GRP, foi escolhido após intensas sessões de brainstorming e mil hipóteses que tinham em cima da mesa. Quanto ao género musical, embora não se queiram rotular fielmente a algum, party rock é para já o mais adequado, com uma poética spoken word pelo meio onde celebram a existência da trágica vida do alentejano Pedro Gato.

Ainda apenas com 5 temas, redes sociais recém-criadas e uma atitude do vocalista a deambular entre uma mescla de José Mário Branco e Adolfo Luxúria Canibal – são a personificação do espírito de Comunidade Malfeito que tanto louvamos. Para além da sua amizade de longa data, a sua história na música começou como já ouvimos tantas vezes, de forma ternurosa: embriagados em Paredes de Coura com apenas uma guitarra, aglomerando num tasco aleatório uma multidão que lhes pagou em cerveja. A simplicidade com que contam isto entre risos, tem tanto de cómico como de pouco intelectual, é certo. Mesmo assim, confere-lhes toda uma franqueza que aqui a Norte é sempre bem entendida e apreciada.

Foi só o primeiro de muitos concertos que aí se avizinham, e o próximo é já dia 27 de abril, onde abrirão para Galgo na Musa de Marvila.

Depois dos Chat GRP, a banda Fafense, Jesus Cristas, subiu ao palco. Com um nome mais do que apropriado para a época da Quaresma, autodenominam-se, de forma ostensiva, como “terapia punk rock”. Todavia, apesar de se terem apresentado ao vivo no início da primeira década do século XXI (onde até tocaram com Alcolémia e Peste & Sida), tiveram um hiato com mais de 10 anos. Regressaram aos palcos em 2022 no Santo Rock como In the Slash (banda de tributo a um amigo). A união para os membros voltou a fazer sentido e aqui estão eles, agora como Jesus Cristas. A formação atual conta com Nuno Marinho na voz e guitarra, Vasco Frusciante no baixo, André Gouveia na guitarra e Hugo Marinho na bateria.

Longe vão os tempos em que estes compinchas da Granja eram expulsos dos próprios concertos (literalmente), ou assim, “gabarozamente” nos contaram. Numa conversa cândida, explicaram que outros projetos e vontades ditaram este intervalo de dez anos. Parecem ser todos, no fundo, bons rapazes, com uma ânsia fervorosa de fazer música. Mesmo assim, o repertório de seu EP homônimo e típicas/super batidas covers de célebres hits dos The Stooges e The Ramones, não deram para aquecer o corpo naquela noite pungente de quinta-feira (com o aparte dos bêbados do costume a fazer moshada porque: -“ROOOCCKKKKK🥴”, e ouvir 4 dudes com o mesmo riff há 45 minutos continua a ser a “brutal man!!” ).

São a típica banda de terrinha, sem aspirações para mais. Queríamos muito dar-lhes mais destaque e mérito, mas a verdade é que foram escolhidos porque naquela hora de quinta-feira a falta de qualidade e alcance musical não são propriamente um problema, ou requisito. E o caché esse, não é de todo elevado. Ficam baratinhos para encher chouriços no cartaz, numa noite que nunca leva a maior enchente (como é o caso da sexta ou sábado seguintes).

Chamar-lhes punk rock é um insulto ao punk. Principalmente, quando temos promotoras como a CVLTO, que ao longo dos anos nos tem mostrado realmente o que é este género a nível nacional e internacional. Denomina-los de ‘rock dad vibes presos no mesmo som há 20 anos‘, supomos que seria de todo mais adequado. Saiam da bolha ‘migos’, em 2024 há mais mundo além de The Ramones…

A terminar o seu set já de madrugada, valeram-nos as primeiras figuras femininas neste festival, o trio de DJ’s a variar entre o indie, o rock e a electrónica, as Chequillas. Beatriz Gonçalves, Margarida Antunes e Jéssica Oliveira têm planos de se afirmarem neste mundo artístico, e têm todo o nosso apoio! Nas palavras de Beatriz (também membro da Promotora Malfeito, festival FEN e fotógrafa musical):

Sendo isso bem visível nos cravos pousados em cima da sua mesa de mistura, e que conferem logo uma stance política ao que por norma é algo tão banal. Neste ponto, voltamos a recordar com privilégio o lugar onde nos encontramos, e a curiosidade pro-democracia que vos contamos anteriormente sobre este café centenário. Embora o sorriso aconchegante desta recordação, se desvaneça momentaneamente quando pensamos como estão estes 50 anos da nossa democracia… É isto que a música mais tem de especial, é louvável que os seus agentes não sejam só meros curadores sonoros, mas também agentes de reflexão e mudança.

O segundo dia ficou a cabo de System Sophie, O Triunfo dos Acéfalos, BBB hairdryer, Conferência Inferno e Pearte – e logo logo, estaremos aqui de novo para reviver mais momentos “Malfeitos” em fotografia🙈 Fiquem connosco e acompanhem as publicações aqui e nas nossas redes @contrabanda.pt ! É todo um amor desmesurado que temos para partilhar ainda, pelo menos para quem o merece 🙂 #staytuned.


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