Marina Sena no Hard Club: o entusiasmo de uma nova vanguarda
8 de abril, dia chuvoso na cidade invicta. A meteorologia não ajudou a dar as boas-vindas a uma das maiores e mais recentes revelações da música pop brasileira, Marina Sena, mas público e energia não faltaram. A artista tomou conta da noite no Hard Club para apresentar De Primeira, o seu álbum de estreia lançado em 2021.
A primeira parte do segundo dos três concertos de Marina Sena em território luso ficou a cargo de Leo Middea, natural do Rio de Janeiro. Bastou meia hora para enternecer a plateia, que nunca hesitou em responder afirmativamente aos vários pedidos do artista para que cantassem com ele. Entre músicas como Lisbon Lisbon (que, confessou o próprio, ainda hesitou em colocar na setlist por rivalidades meramente territoriais) ou outras ainda não lançadas, tal como o tema que encerrou a sua atuação. Contudo, o público fez com que o músico se sentisse em casa. Aliás, sentia-se que uma maioria considerável da plateia era, precisamente, carioca. No Porto ou no Brasil, pouca era a diferença – a festa fez-se maioritariamente de verde e amarelo.

Tal como também aconteceu antes do breve, mas agradável, concerto de Leo Middea, houve um DJ set para aquecer as emoções na sala 1 do Hard Club antes da tão aguardada chegada de Marina Sena. E quando esta aterrou em palco pouco depois das 23 horas, não precisou de muito para levar o público ao rubro. “Que massa!”, repetiu a mesma logo após ter tocado Seu Olhar, o primeiro dos 13 temas tocados ao longo deste concerto. Notou-se, ao longo dos cerca de 60 minutos, que a alegria da plateia também contagiou Marina Sena. Claro que a grande presença de compatriotas certamente ajudou. A própria Marina reparou nessa presença, mas, independentemente da nacionalidade, as duas partes estavam entusiasmadas em partilhar o momento e só isso chegou para o ânimo ir em crescendo. Convém referir que, em palco, Marina fez-se acompanhar do namorado, Iuri Rio Branco, o principal responsável pela produção do seu álbum de estreia, que aqui se responsabilizou pelas backing tracks.

A setlist foi quase toda dominada pelas canções que integraram De Primeira, um disco que, tal como afirmámos no artigo de apresentação do concerto, “mistura tons de pop com funk, afrobeats com R&B”, mostrando “uma versatilidade inegável”. Tendo em conta que Marina Sena atuou por cima das já mencionadas backing tracks, as versões ao vivo não divergiram muito do material original – não que isso seja uma desvantagem.
Para além de Seu Olhar, foram vários os temas recebidos em euforia por um Hard Club bastante composto, mas não esgotado. Me Toca, o primeiro single deste seu primeiro álbum, ou Amiúde foram muito bem recebidos. Temporal, que confessou ser a sua favorita, provocou reações mais amenas, mas, mesmo nos momentos em que a plateia estava mais adormecida, a energia fluía facilmente entre público e artista. Ainda houve tempo para interpretar Ombrim dos Rosa Neon, grupo este que Marina integrou antes de embarcar na sua carreira a solo, ou a sua recente colaboração com Gloria Groove, APENAS UM NENÉM.

Porém, a incontornável Por Supuesto e Voltei Pra Mim foram mesmo os destaques da noite. Para o encore do concerto, Marina Sena deixou o público escolher um destes dois temas para encerrar o espetáculo e a escolha foi assertiva. Voltei Pra Mim mereceu bis, com direito a muitas interações e fotos com fãs, enquanto ainda atuava.
Quem decidiu passar a noite de 8 de abril na sala 1 do Hard Club sabia bem ao que vinha e o que queria: Marina Sena. É verdade que não foi preciso muito mais do que sets simplistas para satisfazer uma plateia que foi fácil de agradar, mas isso não retira em nada o mérito da cantora, que foi o centro das atenções antes, durante e depois do concerto. Soube hipnotizar um público que já vinha preparado para cantar com ela e que lhe mostrou, com entusiasmo, o porquê de se ter tornado numa das principais sensações desta nova vanguarda da música pop brasileira com apenas um álbum no seu repertório.
Tudo foi possível com os selos Thinking Out Loud, KEBRAKU, Jungle e Bossa FM.
Texto: Rui Cunha
Fotografia: Bruno Ferreira