As convergências musicais do rock não são só um boys club!
No Dia Internacional da Mulher, celebramos as conquistas femininas em todas as áreas, inclusive na música. Qualquer sub-género ou convergência musical do rock, são frequentemente associados à masculinidade, mas também foram palco de grandes artistas femme que desafiaram estereótipos e ainda inspiram gerações.
Em agosto de 1980, o fotógrafo Michael Putland capturou uma imagem que se tornaria um símbolo icónico das descendências do rock: seis mulheres, Debbie Harry (Blondie), Viv Albertine (The Slits), Siouxsie Sioux, Chrissie Hynde (The Pretenders), Poly Styrene (X-Ray Spex) e Pauline Black (The Selecter), reunidas num estúdio em Londres. Mais do que uma simples fotografia, esta imagem representa a força e a diversidade de movimentos musicais no feminino, e toda a rebeldia que essas mulheres representavam.
Inspirados por esta foto, o presente artigo busca explorar a trajetória e as contribuições de cada uma dessas artistas. Todas com seu estilo único e talento singular, desafiaram normas e estereótipos, abrindo caminho para tantas outras em géneros como o punk, post-punk, new wave, ou até a cultura pop.
Debbie Harry (Blondie)
Mais do que apenas um rosto bonito, Debbie Harry era a personificação da rebeldia com uma voz poderosa e presença marcante em palco. Compositora, letrista e multi-instrumentista, foi fundamental para o sucesso dos Blondie, banda que incorporou elementos de punk, new wave e disco num som que para os anos 70 e 80 era quase único. Debbie desafiava as normas de género da época com sua persona sensual e letras que abordavam temas como sexualidade e empoderamento feminino. Com hits como “Heart of Glass” e “Call Me”, Blondie dominou os charts e influenciou mais do que uma geração. Essa influência estende-se até hoje, inspirando artistas como Madonna, Pat Benatar, Cyndi Lauper, Gwen Stefani e até Lady Gaga.
Outro fato menos conhecido, é que ela também é uma talentosa pintora e atriz, demonstrando sua versatilidade artística. Além da música, Debbie também participou em filmes como “Videodrome” de David Cronenberg e “Hairspray” de John Waters. E até hoje, já com os seus 78 anos, ainda se dedica à pintura. Em 2022, teve uma exposição a solo em Nova York, intitulada “Debbie Harry: Sight Unseen“. E em 2023, as suas obras foram exibidas numa exposição coletiva em Londres.
Viv Albertine (The Slits)
Guitarrista e vocalista das The Slits de 1977 a 1982, Viv Albertine era uma força da natureza. A sua música era crua e energética, com letras que abordavam temas como sexismo, racismo e política. Com técnica singular e estilo agressivo desafiou desde cedo as expectativas de como uma mulher deveria tocar guitarra. Se és fã de Bikini Kill, L7, Sleater-Kinney ou Yeah Yeah Yeahs podes agradecer a esta senhora e restantes companheiras… Para os mais desantentos, as The Slits foram uma banda inovadora do movimento Riot Grrrl dos anos 90 e inspiraram diversas bandas, tanto femininas quanto masculinas. Após o seu fim, Albertine seguiu uma carreira multifacetada. Lançou um álbum solo aclamado em 2012, “The Vermilion Border”, e colaborou com diversos artistas. Publicou duas obras literárias de sucesso: a autobiografia “Clothes, Clothes, Clothes, Music, Music, Music, Boys, Boys, Boys” e as memórias “To Throw Away Unopened”.
Ainda ativa na cena artística, dirige filmes, escreve roteiros, participa de palestras e eventos literários, e expõe as suas pinturas em galerias. Dirigiu filmes para a BBC e o British Film Institute, explorando temas como a vida da banda em “The Slits: Typical Girls” e a história do Mott the Hoople em “The Ballad of Mott the Hoople”. Mais recentemente, dirigiu o documentário “The Punk Singer” sobre a icónica Kathleen Hanna.
Siouxsie Sioux (Siouxsie and the Banshees)
Voz e figura icónica do post-punk, Siouxsie Sioux quase dispensa apresentações… sábia exploradra de temas como existencialismo, religião e sexualidade, desafia convenções sociais desde os anos 80 até aos dias de hoje. A lendária vocalista dos Siouxsie and the Banshees e The Creatures, mantém-se ativa e criativa. Em 2023, após uma década afastada dos palcos, regressou em grande estilo e até nos agraciou com sua presença em Portugal. Sua influência estende-se por diversas gerações de artistas, desde bandas como The Cure, Radiohead e The Smashing Pumpkins até artistas solo como PJ Harvey e Florence Welch.
Um fato pouco conhecido é que ela também é uma talentosa designer de moda e cria os próprios figurinos para usar em palco. Continua a ser uma das rainhas do gótico e colabora com diversas estilistas e marcas. E tal como as pioneiras acima, também se dedica às artes visuais, pintando e criando colagens expostas em galerias. Ainda é apaixonada por literatura, e publicou o livro de poemas “Mantaray: The Poetry Collection”. Mais notável ainda, é o fato de ser uma ávida ativista, apoiante de causas como os direitos dos animais e a proteção ambiental, participando de campanhas e eventos beneficentes.
Chrissie Hynde (The Pretenders)
Com um alcance vocal poderoso e letras honestas, Chrissie Hynde era a voz da rebeldia adolescente nos anos 70. Compositora e baixista virtuosa, era a líder da banda The Pretenders com hits como “Brass in Pocket” e “I’ll Stand By You”, que se tornaram hinos atemporais. As letras das suas músicas abordavam temas como amor, perda, política e questões sociais, tornando-a uma voz importante para a época. A sua influência pode ser vista em artistas como Joan Jett, Alanis Morissette, Courtney Love e até Taylor Swift. Até aos dias de hoje é uma ativista pelos direitos dos animais e defende causas como o vegetarianismo e ambientalismo. Talvez, de todo este mulherio poderoso da foto, seja a por nós menos celebrada, mas não deixamos de lhe dar a sua devida importância.
Poly Styrene (X-Ray Spex)
Se há artistas femininas completamente underrated da cena punk, certamente Poly Styrene é uma delas. Foi a primeira mulher de ascendência caribenha (somali) a liderar uma banda punk no Reino Unido: X-Ray Spex. A sua música era um grito de rebeldia contra o sexismo e a opressão, inspirando outras mulheres a expressarem-se através da música. E se The Slits influenciaram muita gente, X-Ray Spex influenciou as The Slits. Vocalista e também umas das figuras-mãe do movimento “riot grrrl”, Poly era conhecida pelas suas letras feministas e críticas à sociedade, tornando-se uma figura excêntrica no cenário punk a partir de 1976. Abordava temas desde o consumismo até à alienação social, e lutou contra o racismo e discriminação na indústria musical.
Um fato menos conhecido é que também era uma talentosa poeta*, publicando um livro de poesia em 1980 intitulado “Translucence: A Poly Styrene Book”. A obra é uma coletânea de poemas, letras de músicas e imagens que refletem a visão de mundo da artista, explorando temas como identidade, alienação, espiritualidade e política. Alguns dos poemas mais conhecidos são “Black Skinhead”, “Oh Bondage Up Yours!”, “The Day the World Turned Day-Glo”, “Germ Free Adolescents” e “Polythene”. Em 2005, o livro foi reeditado pela editora Zer0 Books com uma introdução de Vivien Goldman. “Translucence” oferece uma visão única e pessoal da mente de uma das artistas mais inovadoras e influentes da cena punk. Aconselhamos vivamente a sua leitura.
Em 2005, o álbum “Germ Free Adolescents” de X-Ray Spex foi incluído no livro “1001 Albums You Must Hear Before You Die”. É a única das 6 artistas que aqui destacamos que já não está em atividade, porque infelizmente faleceu em 2011 com 53 anos. Apesar do reconhecimento crescente, Styrene ainda não recebe o mesmo nível de reconhecimento que outros ícones masculinos do punk. Está na hora de mudarmos isso, e contamos contigo para espalhares a palavra!
Pauline Black (The Selecter)
Pauline Black (The Selecter)
Dona de uma voz poderosa e estilo elegante, Pauline foi a líder da banda The Selecter, onde caracterizados por ritmos ska e 2-tone, as suas letras abordavam temas como a política e justiça social.
Neste caso, até mais de notar o seu trabalho além da música, principalmente por ska não ser muito a nossa cup of tea (e nem nos queremos atrever a desrespeitar o seu legado musical). Pauline ainda hoje é uma atriz talentosa e já atuou em diversos filmes e séries de televisão (até participou em Doctor Who se a memória não nos falha). No cinema, destacou-se em “Dancehall Days” (1982), “Letter to Brezhnev” (1985), “Mona Lisa” (1986) e “The Krays” (1990). Na televisão, brilhou em “The Young Ones” (1982), “Auf Wiedersehen, Pet” (1983), “The Comic Strip Presents…” (1982-1990) e “EastEnders” (2001-2002). De todas as obras aqui mencionadas, comprovamos o seu talento em “Mona Lisa” que inclusive lhe rendeu diversos prémios, incluindo um BAFTA.
Resumindo e Concluindo…
Ok Ok…reconhecemos o alterior motive deste artigo e tendo em conta a extensão do seu parágrafo, talvez devêssemos tê-lo intitulado de “Poly Styrene e mais mulheres das convergências rock” 🤣 Mas a verdade é que Poly e estas restantes mulheres da foto são apenas alguns exemplos da importância feminina em géneros onde as guitarras, baixos e baterias se fazem ouvir com vorazes apelos à mudança.
Elas desafiaram estereótipos, abriram caminho para outras artistas e influenciam-nos até hoje em diversas maneiras. A sua força, talento e criatividade continuam a inspirar gerações, e tendo em conta o dia de hoje, não podíamos deixar de as celebrar e levar-te a explorares um bocadinho mais do seu legado. Now, spread the word like you’re a Jehovah’s Witness going from door to door…