The Tallest Man on Earth no Capitólio: um “contador de histórias” para amigos, pombinhos e corações partidos
O nosso Miguel Almeida Alves aka Mike Semantics estreia-se oficialmente como redator da CONTRABANDA! Esta semana, esteve no concerto do The Tallest Man on Earth no Capitólio e deixa o seu input sobre a atuação do sueco Kristian Matsson, com o selo House of Fun.
No dia 10 de setembro em Lisboa, o emblemático Cine Teatro Capitólio trouxe-nos a sonoridade folk e indie do artista sueco Kristian Matsson, mais conhecido como The Tallest Man on Earth. De modo a promover o seu mais recente projeto Henry St., lançado em abril do ano passado, a atuação marcou a sua 8ª passagem em solo luso e o último concerto da pequena digressão pela Península Ibérica, iniciada no início deste mês.
Arrancado às 21h, a primeira parte ficou a cargo de Capital da Bulgária, o alter-ego e nome artístico da artista portuguesa emergente Sofia Reis. Não estava familiarizado com o seu trabalho, mas foi uma surpresa agradável! Sozinha em palco (apenas acompanhada das backing tracks) e a partir de uma performance marcada de arranjos de trip hop, dream pop e indie pop, o público reagiu de forma encorajadora e previsivelmente contida durante os seus 30 minutos de atuação. Apreciei a paixão e a timidez genuína com que se dirigiu à plateia (realço Coração de Jejum, faixa de homenagem à sua avó), e espero que tenha um futuro promissor na indústria!
Depois da artista lusa acabar o seu set, esperou-se 15 minutos até Matsson subir a palco e a reação da audiência foi imediata! Quase como se se tratasse de um familiar próximo, tal era o entusiasmo e a alegria que se sentia na sala. Reconhecido por álbuns como Shallow Grave, The Wild Hunt e Dark Bird Is Home, o ‘Bob Dylan sueco’ tem-se destacado no panorama folk ao longo das suas três décadas de carreira, a partir de letras relacionáveis que exploram temas do quotidiano como relacionamentos passados, desgostos amorosos, a natureza e experiências de vida. Temáticas estas que explicam o facto de as faixas etárias serem tão diversificadas (dos 20 aos 45 anos), abrangendo desde portugueses a estrangeiros, como a grupos de amigos e a casais de qualquer género e/ou sexo, o que reforça a ligação dos fãs à sua mensagem de cumplicidade e comunhão.
Como já é habitual, o seu one man show culminou num serão ternurento (“I am going to play a bunch of love songs, but not all of them. I promise!”),marcado pela interação entre o próprio e a sua versatilidade instrumental, principalmente por instrumentos de cordas, alternando entre guitarra elétrica (em Thrown Right At Me), guitarras acústicas, steel guitar (em Every Little Heart), banjo (em Major League) e piano elétrico (na versão de The Dreamer). Ao longo de 18 canções e 2 horas de espetáculo, os pontos altos sentiram-se em muitos dos seus clássicos, como pelo ímpeto energético colocado em King of Spain, o canto em uníssono da plateia em Love Is All, a atmosfera divertida e descontraída entre todos em Burden of Tomorrow, a poesia descritiva em I Won’t Be Found, tal como a interpretação narrada e emotiva em The Gardener (pessoalmente a minha favorita e a que mais gostei).
Contudo, o que mais retirei nem foi o seu virtuosismo enquanto dedilhava ou a sua capacidade de contar histórias, mas sim o lado humano e afável ao partilhar as origens das suas músicas (como em Major League, inspirada no seu sonho de ser jogador de basebol na infância) e as suas reflexões sobre a vida humana. Segundo o artista, “é muito mais fácil deixarmo-nos levar pela escuridão e pelo cinismo que nos rodeiam”, do que construirmos alicerces para uma sociedade mais unida e empática no geral (reflexão entre Rivers e I Won’t Be Found). Ele é uma mistura curiosa de humildade, virtuosidade e sabedoria com uma pitada saudável de vaidade (faz parte da arte, as letras não se escrevem sozinhas), procurando transmitir sempre os seus valores pela sua performance: paixão, dedicação e diversão (“Music is fun. Thank you”; até reparei que abraçou o assistente de palco).
Nunca tinha tido a oportunidade de o ver ao vivo, e as minhas expectativas estavam certas: a abordagem energética e o sentido de proximidade do músico para com os seus fãs é especial. Ainda mais se incluirmos o seu amor por Portugal, realçando Lisboa como “a lovely place to end up our little tour”, e reconhecendo o público português como “the best crowd in the world. Hands down!” (sabemos que costumam dizer isto aonde quer que atuem, mas vamos acreditar que é verdade). Recomendo que o vejam, garanto que não se vão arrepender! Se for no Cineteatro Capitólio, ainda melhor. É uma das salas de espetáculos que mais gosto em Lisboa, tanto pelo nível acústico como pelo seu ambiente tranquilo! (o único ponto menos bom é as casas de banho serem num piso diferente do palco, não se pode ter tudo).