SonicBlast Fest – Dia 1: O Porto é a Âncora!
A Praia da Duna dos Caldeirões, em Âncora, transformou-se num altar do rock pesado nesta quinta-feira, 8 de agosto. O SonicBlast Fest, um dos maiores eventos de stoner, doom e rock psicadélico da Europa, abriu as portas para mais uma edição. E a nossa Mia Nieves está cá para te contar, de forma personalizada, a sua experiência:
O SonicBlast começou como um evento de pequeno porte, mas rapidamente ganhou popularidade devido à qualidade sonora e à atmosfera única que proporciona. Ao longo dos anos, o festival cresceu em tamanho e renome, atraindo um público fiel e apaixonado, consolidando-se como um dos principais encontros de música underground na Europa, however há umas quantas questões que ficam aquém em comparação a qualidade sonora que nos apresentam…
A minha ótica de festivaleira foi-se alterando ao longo dos anos, estive em Moledo na segunda edição, se não estou em erro, a memória já não joga muito a meu favor e isto de voltar anos depois aos mesmos festivais (por mera coincidência do acaso) tem muito que se lhe diga. Uma coisa é certa, os skaters vão sempre preferir piscinas a ondas do mar. Já de vilas costeiras, gostamos todos!
Então vamos ao que interessa! SonicBlast Fest DOIS MIL E QUATRO começou com o famoso e tão aclamado Warm Up. Este dia, muitas vezes subestimado, desempenha um papel crucial tanto para o público quanto para a organização, uma vez que fortalece o senso de comunidade entre os festivaleiros servindo como aperitivo para os dias subsequentes do festival. Felizmente, o nosso Sérgio não faltou e através da sua lente, captou muitas histórias de invejar!
Tenda montada entre relatos da noite anterior, que me fazem desejar voltar no tempo, o melhor é focar no presente. Já com atraso, mas mesmo a tempo para garantir lugar bem pertinho dos Maruja. Chegou o momento de deixar a razão, e me deixar levar pela emoção. Também não é segredo que o primeiro dia, definitivamente representa a música que encanta os meus ouvidos. Aiiiii como me aquece o coração e quase me dá insuficiência cardíaca de tanto correr, saltar, gritar e choramingar. É que isto dos desportos, não é para mim, já para a rapaziada do viagra, estão como o testo está para a panela. Foi perfeito, mas já lá vamos…
Envolvida pela melancolia dos Maruja, confesso que estava a espera de uma sonoridade e envolvência mais melódica, talvez seja por estar habituada a ouvir em momentos mais de introspeção e raramente focar nos vídeos que pairam na Internet. – Ou então foi mesmo a falta do saxofone. Se há uma coisa que o espírito de Manchester nos ensina, e muito, é que “bad” boys também choram.
Seguiram-se os Earth Tongue, confesso que não é muito “a minha cena” mas DAMN! É impossível não ficar hipnotizado pela guitarra distorcida que nos faz questionar o que é que estamos a ouvir. Às vezes, a música é feita para soar estranha e indescritível. São os momentos de clareza dentro da densa confusão sonora que muitas vezes soam aos mais satisfatórios. Esse é o espaço que o Earth Tongue ocupa. Em alguns momentos, o som agudo que ecoa desorienta, em outros, as texturas cobertas de um reverb-washed e os ganchos instantaneamente familiares envolvem-nos num abracinho quente e amoroso. O resultado é raw, intenso e distorcido pelo psych-rock, melódico e o desconcertante. Reviravoltas inesperadas deixam-nos numa névoa desorientadora, mas satisfatória.
A verdade é que é, a dupla da Nova Zelândia não deixou ninguém indiferente e conseguiu captar a energia de todos os que já pairavam entre as “torres gémeas”, e até mesmo aqueles que ainda estavam para vir. Os dois elementos que constituem a banda, fundem-se num só de uma forma indescritível. Fiquei rendida, e não foi só por mais uma vez, ser uma menina em palco a mostrar como se anda isto.
ENOLA GAY!! Se não sabem , já deveriam saber o quanto eu gosto de um betinho emocional que não tem medo de mostrar quem é, mesmo que, se possa sentir um peixinho fora d’água. As letras, aliadas aos acordes provam-nos, mais uma vez, que não precisamos de estar sempre a mostrar que somos mais ou menos que os outros, e que para tu estares bem eu não tenho de estar melhor que tu. Somos todos um só, e só seremos livres quando todes formos livres.
– Tudo é politico e tudo é emocional também! Somos um só enquanto sociedade e enquanto seres humanos, é nosso dever cumprir com o principio base do respeito mutuo. Fundimos num só! E não me refiro apenas ao simples e tão necessário momento em que o vocalista, interagiu com o publico de igual para igual. Foi o primeiro a fazê-lo, e ainda bem! Abriu caminho para que qualquer uma das bandas que toque a seguir, olhe para o publico do mesmo ângulo.
A empatia para com o próximo, é o que nos faz mais fortes.
Depois de tanta emoção, é necessário recarregar as energias, seguem-se os Black Mountain e to be honest it was the perfect sound track to dinner. E o momento de conhecer a zona da restauração- que fica em paralelo ao recinto – que confesso, sendo eu uma pessoa muito ansiosa, com o seu que de défice de atenção, não foi tarefa fácil. – Lá tivemos de nos de nos ir sentar no chão do recinto para conseguir desfrutar da nossa refeição em família, com o mínimo de conforto. Ao menos é ao som de boa música, podia ser pior.
Seguem-se os MÁQUINA!! MAQUINARIA PESADAAAAAA!! DAMN!! Mudaram completamente a atmosfera! O efeito dominó, boomerang sonoro, uma harmonia invisível que só percebemos quando os nossos sentidos se afinam para o que está além do óbvio. Uma banda, não é apenas feita com os elementos que estão em palco, e muito menos se limita apenas aos instrumentos tocados e visivelmente facilmente identificados. – É MUITO MAIS ALÉM DISSO!
É um tecido vivo, entrelaçado pelas experiências individuais e coletivas de cada membro. É formada pelas almas que nos cercam, por aqueles que nos sustentam com a essência do que são e nos fortalecem com o que têm de melhor a oferecer. É a união de vidas, de histórias, de energias, que juntos criam algo muito maior do que a soma das suas partes. São as nossas vivências enquanto seres individuais e coletivos.
Os Maquina, são Tomás (baixo), Allison (voz/bateria), João (guitarra), como também são Zé Mendy (Eng.Som) e o Sebastião – (Luz), todes nós. E ao encargo do desenho visual de Sebastião, acende-se uma chama, que arde e ofusca, para se ver! Teletransportam-nos para outra dimensão, eu diria Saturno.
É punk, é rock, é techno—é a vida a pulsar e a lembrar-nos da urgência de viver. O que nos une e separa enquanto sociedade sonora são apenas fragmentos de uma realidade maior. Com notas dissonantes numa sinfonia coletiva, onde a luta entre classes se reflete nos ritmos que escolhemos, nas melodias que ecoam as nossas histórias. Na cadência de cada batida, vemos a dialética entre união e divisão, onde o som nos convida a questionar e a celebrar a própria essência de existir.
Deviam ter tocado dois slots, acima. – Fica a dica.
A família Maquina, eletrificam de tal forma, que Graveyard, ainda tentou gritar que “Too much is not enough”, mas não conseguiu. Nada que nos choque, mas também não nos faz tirar o pé. A sonoridade fascina, e remeto-nos para uma nostalgia já dada como garantida. Foi bonito, foi ok, tem o seu momento de ser vivido. Eu pessoalmente, vivo-os mais no meu lugar mais seguro.- Ao vivo, a historia é outra. Icónicos tho, nada lhes tira isso!
LET’S F** GOOOOO!!!! É a vez dos VIAGRA BOYS! Com uma sonoridade que captura a tensão entre a euforia e o desespero, refletem a experiência de viver num mundo que muitas vezes parece absurdamente fora de controle. Com temas que abordam a alienação, o vício e a autodestruição, a banda não apenas provoca, mas também convida à reflexão sobre as lutas internas que muitos enfrentam. Alienados ao sarcasmo e à rebeldia, há uma autenticidade crua que ressoa com quem já enfrentou ou testemunhou as batalhas silenciosas da mente. Lembram-nos que, mesmo no caos, há espaço para entender e enfrentar a nossa própria vulnerabilidade. FOI PERFEITO E EXTREMAMENTE PODEROSO!!
Na ótica desta rapaziada del viagra, Âncora é o Porto. Disseram tantas vezes “Obrigada Porto!” que hoje, no campismo, andamos todos a dizer, anedoticamente, a dizer o mesmo! Mas também compreendemos…quem experiência a energia da Invicta, nunca mais volta a ser o mesmo.
Confesso que ainda estou em fase de processamento, e precisaria de uma cronica só para fazer jus ao que se viveu e sentiu, e isto já esta a ficar muito extenso e os Madness acabaram de abrir as hostilidades no Main Stage 2, neste segundo dia de festival. Dia este, em que anoto no meu querido diário, as reflexões de uma noite cheia de emoção e pujança !!
PUNK ROCK WINNERS!!
De seguida, tivemos Poison Ruiiiiiin! Sinceramente, no sentido de suscitar algo mais estão quase como os Graveyard, gosto muito, mas não puxou muita carroça. Em exceção dos últimos minutos, que me conquistaram com um punk rock Dead Kennedys.
Já Tons! Deram incentivo para a shrummy trip que aí vem, muito respeito pelos psicadélicos blessed by Milo! – Sim, aquele senhor dos Descendents.
Subiram ao pódio e não irão sair de lá tão cedo. Estou completamente entregue e em fase de processamento. Conseguiram um lugar muito sagrado no meu coração. Tocaram no palco mais trashado, como gostamos e levantaram pó como a levantar voo.
Não conhecia muito a fundo, depois disto, acho que tenho (mais uma) nova obsessão. – Eu sei que eles merecem tudo e querem é saber da parte sonora da coisa, mas para já fiquem-se com o melodrama. Foi como voltar ao concertos, pouco pensados ou poucos crescidos em dimensão, foi poético e necessário. Lembrou-nos o porque de estarmos aqui!
Podia dizer que se o festival se resumisse apenas a este dia, sairía daqui com mais vitalidade com que entrei, e a levitar numa nuvem com textura de algodão doce. No entanto, é importante realçar o facto de ter sido o dia talvez mais generalizado e que o up and down entre bandas, apesar de ser apelativo a todas as idades, e ser mais abrangente entre os nichos, não estamos em Paredes de Coura.
Com mais maturidade será, porque a dignidade essa, já cá não está. – A tarefa mais árdua é sem duvida reservar cartuchos para o que aí vem.
Amanhã há mais! Até já.
Ps.: Se estiverem a ler isto enquanto pairam pelo festival, bora beber FINOS!