Os Destaques de Abril 2022

Wet Leg – Wet Leg

Género: Indie Rock; Post-Punk
Data de Lançamento: 08/04/2022

2021 foi um ano certamente marcado por um grande revivalismo do post-punk vindo de terras britânicas, com bandas como os Dry Cleaning, os Squid ou os shame a apresentarem alguns dos melhores álbuns desse mesmo ano. No meio desta revolução, as Wet Leg, o duo formado por Rhian Teasdale e Hester Chambers, tornaram-se numa overnight sensation no espaço de poucos meses. Fora as críticas polarizadoras em relação à rápida ascensão da banda, não é difícil de perceber o que torna a música das Wet Leg tão apelativa. Indie rock e o já referido post-punk misturam-se com um cariz mais referencial e cómico para criar algo genuinamente bem-humorado e que rapidamente fica no ouvido.

Não é preciso ir muito mais longe do que Chaise Longue, o grande single por detrás do álbum de estreia da dupla, com alusões a Mean Girls, tons de spoken word e guitarras eletrizantes que, sim, fazem lembrar Dry Cleaning, mas com mais algum pop appeal. Aliás, quase todos os principais destaques do primeiro disco das Wet Leg passam precisamente pelas faixas mais energéticas. Wet Dream e Angelica, dois outros singles do álbum, mantêm o mesmo charme que Chaise Longue, bem como a mesma visão cínica que predomina na personalidade de uma banda que encapsula bem o que é ser um young adult em 2022. São muito frequentes os refrões contagiantes, mesmo em faixas mais curtas ou simplistas, como é o caso de Being In Love ou Oh No, ou noutras mais melodramáticas e amenas, com Loving You ou Piece of Shit a virem logo à cabeça.

Se há algo que não falta no álbum de estreia das Wet Leg é diversão. As sonoridades apresentadas podem não ser particularmente inovadoras no meio desta nova corrente de post-punk. Ainda assim, o que eventualmente falta em originalidade, Rhian Teasdale e Hester Chambers compensam em carisma. Ainda há muito potencial por explorar, mas uma coisa é certa: o indie rock das Wet Leg é mesmo capaz de deixar qualquer um com um enorme sorriso na cara.

billy woods – Aethiopes

Género: Abstract Hip-Hop
Data de Lançamento: 08/04/2022

Se álbuns a solo como History Will Absolve Me e Hiding Places mostram alguma coisa sobre billy woods, é que, para além de ser um excelente compositor e de estar na vanguarda de uma vertente mais abstrata do hip-hop, o rapper consegue fazer da sua arte um enigma aliciante, recompensando tanto quem escolhe uma experiência mais casual como quem opta por dissecar a sua obra à procura de todas as respostas, referências e metáforas. Aethiopes, que surge depois de um início de década mais focado em side projects, não foge à regra, sendo até um dos seus álbuns mais labirínticos e intrigantes em termos concetuais.

A atmosfera central de Aethiopes varia entre sombria e claustrofóbica, apontando o foco, quase sempre, para a lírica de woods e para os beats minimalistas criados por Preservation, o único responsável pela produção do disco e que já tinha prestado o seu contributo nesta área em três faixas de Terror Management, um dos dois álbuns que billy woods lançou em 2019. Não é uma combinação completamente surpreendente para quem já conhece o cabaz artístico de billy woods, mas Aethiopes eleva esta valência a novos patamares.

Os tópicos abordados também não são nenhuma novidade no portfólio de billy woods. Tal como a própria origem da palavra que dá nome ao álbum indica, Aethiopes aponta o foco para África, mais especificamente para o seu passado colonial. A forma como woods, através das suas letras, pinta o sofrimento e as consequências (que ainda são sentidas por muitos) desta exploração é simplesmente sublime.

Os convidados também não desapontam, com ELUCID, a outra cara metade dos Armand Hammer, El-P ou Quelle Chris a conseguirem navegar os tons abstratos que Preservation pinta na sua produção. Boldy James e Despot até conseguem roubar algum protagonismo a billy woods em Sauvage e Versailles, onde se podem ouvir alguns dos melhores versos de todo o álbum.

Sem surpresas, Aethiopes não se dá muito a estéticas ou temáticas acessíveis, mas a natureza labiríntica das narrativas de billy woods pedem para ser decifradas até ao limite. Aliás, parte da magia de Aethiopes passa precisamente pela sua visão impiedosa dos conceitos que aborda, bem como pela forma absolutamente poética como os redige.

Pusha T – It’s Almost Dry

Género: Gangsta Rap
Data de Lançamento: 22/04/2022

A perfeição leva o seu tempo, Pusha T que o diga. Não é por acaso que é um dos nomes mais intocáveis no mundo do hip-hop há algumas décadas, desde os icónicos dias dos Clipse (ao lado do seu irmão) até DAYTONA, o álbum de 2018 que realmente o afirmou enquanto artista a solo. O seu sucessor, It’s Almost Dry, parece combinar estes dois importantes capítulos da longa e respeitável carreira de Pusha T, com um autêntico duelo de titãs na vertente da produção entre Pharrell e Kanye West. Cada um assume esse papel em 6 das 12 faixas de It’s Almost Dry, prestando simultaneamente homenagem ao passado e ao presente artístico de King Push.

Brambleton, por exemplo, retorna às sonoridades de Hell Hath No Fury em força, trazendo também a relação de Pusha T com o seu antigo manager (Anthony Gonzales) para a dianteira. Não é obviamente o único tema em que Pharrell brilha, com a estrondosa Let The Smokers Shine The Coupes, ou algo mais esdrúxulo como Neck & Wrist (que conta com um verso de JAY-Z) a destacarem-se facilmente entre as demais, algo que não acontece com outras contribuições como Call My Bluff. Por outro lado, faixas como Dreamin Of The Past ou Just So You Remember aludem à estética de DAYTONA, muito focadas nos samples (neste caso, de Donny Hathaway e de Colonel Bagshot) e na química inegável entre Kanye West e Pusha T, também refletida em Diet Coke e Hear Me Clearly, dois singles deste novo álbum.

Porém, é notório que It’s Almost Dry não é tão coeso quanto inicialmente promete. São muitas as repentinas mudanças estilísticas ao nível da produção e algumas as presenças que não assentam tão bem naquilo que é o ADN do coke rap de Pusha T, como Lil Uzi Vert e Don Toliver em Scrape It Off e Kid Cudi na desapontante Rock N Roll. Ainda assim, I Pray For You encerra It’s Almost Dry em grande estilo, com Pusha T e Malice a reacenderem as chamas efervescentes da era dos Clipse e as esperanças de uma reunião em larga escala.

Falta alguma harmonia a It’s Almost Dry para estar ao nível de DAYTONA, mas, nos seus momentos mais gloriosos, Pharrell e Kanye West provam, mais uma vez, que não há mesmo ninguém que entenda tão bem a essência de Pusha T enquanto rapper como eles mesmos. Sim, o longo historial de Pusha T com estes dois contemporâneos coloca-o certamente em terreno fértil, mas, verdade seja dita, sempre foi com estes ingredientes que Pusha T vingou melhor.

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