FAUPFest 6.0: A música por entre a natureza
Foi preciso aguardar dois anos para a música voltar ao calmo ambiente dos jardins da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Mas a espera, valeu bem a pena!
Naquela que foi a sexta edição da FAUPfest, muito houve para comemorar. Por um lado, um regresso aos espetáculos ao vivo sob o formato de festival, ainda que com dimensões diferentes dos que têm os festivais de verão mais cobiçados e mediatizados. Por outro, não deixa de ser uma celebração académica. Com a FAUPFest 6.0 a ocorrer na semana a seguir à Queima das Fitas do Porto, o próprio espírito coletivo dos muitos estudantes que quiseram marcar presença foi de festa, de encontros e reencontros e, principalmente, de alegria. Mas acima de tudo, foi a música que animou os três palcos da FAUPfest num 13 de maio que, felizmente, se fez soalheiro.
Logo nas primeiras horas, os jardins já se enchiam de pessoas que puderam testemunhar os concertos de abertura de Vitória Vermelho ou Aníbal Zola, bem como explorar a feirinha de artistas que decorreu entre as 16 e as 21 horas.
André Júlio Turquesa, que trouxe para o palco Árvore vários temas do seu último álbum Orgônio (como O Pescador ou Release The Fire), soube entreter e até brindou com uma plateia que soube aproveitar os tons melancólicos da sua voz e da sua guitarra para relaxar calmamente em contacto com a natureza. Mais agitado foi o concerto dos fafenses El Señor, formados por Guilherme Pinto dos Santos, Vítor Silva e Duarte Oliveira. Problemas de som à parte, amornaram e contagiaram o relvado do palco Árvore com canções do EP Alvorada Beat (como Dragging Smiles, por exemplo), bem como do seu álbum de estreia repleto de rebeldia e bons sons, Suburbs of Joy.
Às 21h30 no palco Carlos Ramos, os portuenses Fugly colocaram ao rubro as dezenas de pessoas que dançaram ao som de temas de Millennial Shit, o seu álbum de estreia, bem como do seu sucessor Dandruff, editado no passado mês de março e um dos lançamentos em destaque desse mês para a CONTRABANDA. Arrisco até a afirmar que estas músicas funcionam ainda melhor ao vivo do que em estúdio. Hit the Wall, Mom, Music ou Space Migrant foram recebidos de forma muito animada e com crowd surfing já na reta final do espetáculo. Aliás, tal foi a energia da atuação do quarteto formado por Pedro Feio (ou Jimmy), Rafael Silva, Nuno Loureiro e Ricardo Brito que o próprio amplificador “morreu” a meio do set. Contudo, nada abalou o entusiasmo dos Fugly nem o baile que conduziram durante cerca de uma hora.
Pelo meio, ainda houve tempo para aproveitar outro concerto igualmente recheado de explosividade sónica. Os Baleia Baleia Baleia tomaram conta do palco Toca por volta das 22h15, num concerto que provocou uma enchente e que até conseguiu elevar ainda mais a intensidade das performances.
Ainda assim, os holofotes estavam virados para a atuação dos First Breath After Coma às 23 horas no palco Árvore – e, verdade seja dita, não desiludiram. Numa setlist que fez um trabalho exemplar a balançar temas dos segundo e terceiro discos do quinteto (Drifter e NU, respetivamente), os First Breath After Coma enfeitiçaram a plateia com as veias mais experimentais e densas de canções como Heavy e Please, Don’t Leave, bem como com as tonalidades catárticas de temas como Tierra del fuego: La mar, Tierra del fuego: Nisshin Maru e, principalmente, Blup, que encerrou as hostes. Antes deste último tema, confessaram que “este sítio é muito bonito e vocês fazem parte disso”, e o elogio não podia ser mais adequado.
Já depois das 12 badaladas, ainda sobrou tempo para 10 000 Russos no palco Carlos Ramos. Foi mais uma oportunidade para o público se levantar e render-se aos ritmos do já vasto catálogo do trio portuense que nos presenciou com Superinertia no ano passado. A terminar a noite, tivemos Arrogance Arrogance que se mostrou mais uma vez confortável entre o footwork e o ghetto house.
Se há algo que caracteriza a FAUPFest é o bem-estar. O bem-estar da natureza, o bem-estar dos muitos estudantes (e não-estudantes), o bem-estar de poder ver alguns dos melhores artistas a nível nacional nos belos jardins da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. A edição deste ano não foi exceção, tendo, se calhar, o melhor cartaz do festival até hoje. Agora só falta esperar que a festa se repita em 2023 e, certamente, marcar presença.