2º Dia EDP Vilar de Mouros 2022 – Alive and Kicking!

O segundo dia começou mais tímido em termos de afluência, talvez isso tenha a ver com o facto de este ser o dia mais afetado por dois dos três cancelamentos a que o festival sofreu. A retirada de Limp Bizkit e Hoobastank do cartaz, deu lugar a Simple Minds e Black Rebel Motorcycle Club – substituições que foram recebidas de forma agridoce, embora em geral mais doce, mas que para alguns dos festivaleiros ainda deixou um certo dissabor.

No campismo, os vizinhos já se faziam mais perguntas entre si, comentavam sobre o que gostaram mais e menos do dia anterior e do que estavam entusiasmados para ver neste dia. Os círculos se tornavam cada vez maiores, e faziam logo pela manhã versões acústicas de Baby One More Time e terminavam a cantar por cima de Enjoy the Silence. Não se parava de ouvir frases que demonstravam disponibilidade: “Se quiseres alguma coisa, estou aqui”, “Onde comem dois, comem três”, “Precisas de ajuda com a tenda?”. E é por bons ambientes como esse que se aguenta todos os inconvenientes que vêm associados ao campismo.

Non Talkers

A presença do duo luso-belga chegou ao palco com um ar de familiaridade, talvez seja por serem uma banda de Viana de Castelo, distrito do qual este festival faz parte. Entraram em palco também tímidos como o dia, e durante a primeira música não puderam mostrar alguma nuance na performance por causa das constantes falhas no microfone, que só foram resolvidas na canção a seguir.

As vozes de Marco e Evita encontravam-se de forma regular. Fizeram dois covers, um de Piece of My Heart da Janis Joplin, e Out of Control dos U2, artistas que sem dúvida fazem parte do seu notório acervo de influências. Mas as suas músicas originais carregavam uma nostalgia que combinava perfeitamente com essas versões.

A banda deu um concerto para se ver descontraidamente enquanto o sol se põe. Nem todos os concertos estão destinados a ser catárticos, alguns podem ser apenas apreciados como um belo preenchimento de espaço.

Clawfingers

Quando os Clawfingers entraram em palco com cerca de 10 minutos de atraso, parecia que já estivessem a dar o concerto há no mínimo meia hora. World Domination, a primeira música a ser tocada, dominou toda gente que estivesse no recinto, atingiu o climax instantaneamente, e de repente este lugar era o mundo e os Clawfingers a sua maior entidade. Out to Get Me deu seguimento a essa energia, e encontrou um público bastante responsivo, que em seguida mereceu um breve e bem-humorado discurso sobre o quanto eles amam Portugal e estão agradecidos por estar aqui pela segunda vez.

O humor era bastante recorrente na apresentação da banda, e não era nada difícil de absorver. Exemplo disso foi quando o público começou a bater palmas ao som de Nothing Going On, e Zak Tell cantarolava “If you’re happy and you know it clap your hands”, ou até mesmo quando disse “Everybody put your hands in the air and pretend we are the biggest band in the world”, e sem mais delongas, o público os fez sentir exatamente como queriam.

Em Catch Me, Tell literalmente saiu do palco e escondeu-se no meio do público. Foi um dos pontos mais altos do concerto, e fez todos espectadores gritarem intensamente pelo seu nome. Eles pareciam bastante emocionados com este nível de receção, e aproveitaram o momento para fazer outro discurso, dessa vez sobre como conheceram-se há 33 anos enquanto trabalhavam num hospital a cuidar de idosos, e a música a seguir, Rosegrove, era sobre isso.

Depois de um acentuado e ininterrupto seguimento de Rosegrove e Warfair, a banda tocou uma nova canção, Evironmental Patients, com ênfase no facto de que só as escrevem a cada cinco anos e por isso deveríamos estar agradecidos.

Por causa do atraso que tiveram para surgir em palco, duas músicas tiveram que ser cortadas da setlist original. Tell parecia brincar quando antes de tocar a décima música, disse que esta seria a última, mas a afirmação não poderia ser mais séria. Despediram-se agradecidos e saíram do palco, mas tiveram que voltar a pedido de uma audiência que ainda tinha vontade de esticar todos os ossos. Do What I Say encerrou definitivamente a apresentação, e contou com um coro que se estendia para lá do recinto. Em algum lugar ainda há alguém que esteja a recuperar do impacto deste concerto.

Black Rebel Motorcycle Club

Depois da visibilidade e transparência na atuação dos Clawfingers, a entrada de Black Rebel Motorcycle Club não poderia ser mais o oposto. Robert Levon Been, Peter Hayes e Leah Shapiro vinham envolvidos numa fumaça em que inesperadamente se mantiveram durante todo o show. Só se podiam ver os seus contornos quando apresentavam a canção de abertura, Beat The Devil’s Tattoo, seguido de um tímido e breve “Obrigado. Good Evening.”

O arranque do show permaneceu algum tempo nesse véu de silicone – monótono e não muito nítido. Em sua defesa, a música deles não os permite serem performers de destaque, mas quando o concerto tomou um tom mais energético a partir da sexta música, Six Barrel Shotgun, foi notório que a sombriedade que nos trouxeram ainda tinha muita margem para exploração.

O público respondeu bem a essa mudança, e tal como mereceram elogios da banda anterior, obtiveram um profundo agradecimento à audiência portuguesa em específico, e a Portugal por ser um dos países mais bonitos que já visitaram.

Concerto de Black Rebel Motorcycle Club no EDP Vilar de Mouros 2022 | Fotógrafa: Joana Pereira

Em Ain’t No Easy Way, Hayes tirou uma harmónica de um dos seus bolsos, e apresentou um Country Rock dançante, que junto a Shuffle Your Feet, atingiram um ponto alto no concerto. Não teve como parar esse fenómeno quando Spread Your Love tomou o seu lugar no alinhamento, até este momento, passou a ser a mais celebrada e a que puxou mais pela voz do público, que se soltava a medida que a banda também o fazia.  

Começavam a ecoar guitarras com uma sonoridade entre o limpo e o sujo quando Whatever Happened To My Rock ‘n’ Roll, a última faixa do set pairava no ar. Been mencionou estar agradecido de fazer parte deste line-up incrível, junto de artistas como Simple Minds, Bauhaus e Iggy Pop, e sem dúvida mostrou o porquê da banda fazer parte do mesmo alinhamento. Se quebrar guitarras ainda fosse algo cool a se fazer, este seria o show perfeito para fazê-lo.

Simple Minds

Se em Black Rebel Motorcycle Club tardou-se a chegar ao ponto de ebulição, em Simple Minds quase que nos esquecemos de ter colocado a água ao lume. Literalmente ouviam-se pessoas a mandar disparates a cada canção “Fodasse, nunca mais chega a merda desta música!” – dizia um homem acompanhado de outras pessoas igualmente exaustas. O motivo era o memorável e grande hit dos anos 80, Don’t You (Forget About Me), que em contexto se mostra efetivo até hoje. Mas ao longo do crescente sentimento de querer viver este momento em específico, nem tudo se passou por desapercebido.

Após um arranque de concerto morno, Jim Kerr, vocalista da banda, justificou a sua falta de energia com o facto de ter uma perna quebrada e que não poderia dançar. Para compensar, andava suavemente pelo palco, acenava constantemente, e sempre pedia de forma muita simpática para ver as nossas mãos – era impossível negá-lo.

No final da quarta música, Kerr saiu do palco e trouxe consigo Sarah Brown. Recebida pelos instrumentistas da banda de forma dramática, estendeu sua voz para cantar Book of Briliant Things – um momento ímpar que prometia um bom resto de concerto, mas que perdeu pujança quandofoi seguida por Nelson Mandela.

Concerto de Simple Minds no EDP Vilar de Mouros 2022 | Fotógrafa: Joana Pereira

Quando o resto da banda foi oficialmente apresentada ao público, Kerr virou-se para Cherisse Ossei, que estava na bateria, e simplesmente disse “This is what I call girl power”, e o público reagiu como se coletivamente estivessem todos a pensar o mesmo. Era difícil desviar a atenção da mulher que dava algum ritmo nesta apresentação que sofria de constantes altos e baixos. E quando chegou a hora do seu drum solo, ficou evidente que a sua forte presença era capaz de tomar conta do palco por si mesma.

Mas então chegou o tal esperado momento porque todos ansiavam, Don’t You foi instantaneamente reconhecida, e telefones ergueram-se simultaneamente com vozes que pareciam ter a letra aguçada na ponta da língua há muito tempo. Foi um final feliz, mas que quase soou como recompensa.

No terceiro dia do festival, o recinto receberá os cabeças de cartaz, Iggy Pop e Bauhaus, dois dos nomes mais fortes desta edição.

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